Tenho pensado muito a respeito desse tanto de modernidade que alcançamos. São aparelhos que fazem de tudo um pouco, programas que ensinam “a melhor dieta de todos os tempos”, mas tudo anda meio doido.

Quanto mais programa de dieta, mais obesidade.

Quanto maior o número de “tratamentos milagrosos”, mais mulheres angustiadas.

Somos atropeladas por um padrão que devemos atender e que vale para tudo, do peso à maneira como dormimos.
Nunca estamos no hoje.

Dias e noites ansiando o amanhã. Prevendo problemas que não vingaram, doenças que não se apresentaram, rupturas que já findaram.
Estamos no ontem e no amanhã, nunca no hoje.

Não deve ser por acaso que a indústria farmacêutica anda cada dia mais multimilionária. Nada dá mais dinheiro que uma pílula milagrosa.
Vivemos no “agora ou já”.

Nosso padrão de comportamento está nos enlouquecendo. Literalmente.

Estamos viciadas em correr contra o tempo e somos atropeladas enquanto ele passa como tem de passar e nem aí pra gente. A gente corre atrás de algo que não pode alcançar.

As pessoas não se relacionam, se interrogam.

Casais não interagem, fazem check list.

Sou uma comprovação do “tudo ao mesmo tempo, agora”. Mas, com mais de uma profissão, tenho observado mais a mim mesma e entendido que não posso dar conta de tudo.

Quando me perguntam se cozinho, respondo gentilmente “tenho outros talentos e posso compartilhá-los com você”.
A questão é decretarmos a nossa inoperância.

A honra, me parece, está em dizer francamente “desculpe, não dou conta da maneira como você me cobra”.

Fica inviável melhorar quando buscamos atender demandas que, muitas vezes, não são nossas. E isso nada tem de egoísmo.

Creio que nós, mulheres, carecemos de um minuto de silêncio interno.

Precisamos mais umas das outras.

É importante trocarmos mais, nos validarmos mais e falarmos com lealdade o que sentimos, como sentimos e quando sentimos.

Quem sente calada, travada, acuada, torna-se nó.
Nascemos para ser laço!

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade: Alma no Varal








Cláudia Dornelles. Escritora, autora de três livros publicados de crônicas, advogada e administradora da página Alma No Varal.