“Não grite alto a sua felicidade” – tudo bem, mas por quê?

– Que óculos lindo Mari, onde comprou?
– Ah obrigada, numa feirinha na Croácia.
– Ah então ta né! – seguido de uma reviradinha de olho.
– Mas lá é tudo muito barato, paguei só 5 euros. – me adiantei rapidamente.
– Humm, é mesmo?

E depois que terminei a conversa sobre os baixos custos da cidade de Zadar na Croácia, fiquei me sentindo desconfortável. Desconfortável por ter que ficar sempre justificando uma experiência que tive e que conquistei com todo mérito. Desconfortável porque se eu não explicasse que viajei sem luxo nenhum, seria certamente julgada como esnobe.

Vocês já sentiram que é preciso diminuir o tempo todo as grandezas realizadas para ser bem aceito nos meios de convivência? A sociedade brasileira tem algo de coitadismo já intrínseco na sua essência, e mais do que isso somos educados para sermos sempre extremamente humildes, discretos e nunca falar demais dos nossos sucessos.”Não grite alto a sua felicidade” ou “Compartilhe com os outros apenas o essencial”.

Não só em realizações materiais, mas também nas relações pessoais, ressalta-se o coitadismo. Se por exemplo, alguém diz que o namoro acabou porque foi traído, todos rapidamente oferecem o ombro e os melhores conselhos. As pessoas querem saber detalhes sórdidos e a conversa pode se estender por horas. A vítima da situação vira até herói. Agora se é dito para as mesmas pessoas que o relacionamento vai muito bem obrigado, que nunca sentiu-se tão completo com alguém e que rola sexo todo dia, irão dizer “legal” e provavelmente pensar que estas deslumbrado.

No meu caso, eu não viajo porque sou rica. Eu apenas priorizo mais experiências do que posses na minha vida e sofro consequências por isso, claro. Escolhas, mas das quais até hoje não me arrependi. E mesmo assim, dificilmente posso compartilhá-las.

É claro que ninguém gosta de uma companhia que vive se vangloriando e falando o tempo todo de si. O famoso mala. Mas às vezes, só queremos compartilhar aquilo que vimos de melhor, passar adiante um bom aprendizado ou uma bela memória. O que há de errado nisso? Que chatice! Parece que nós temos que aspirar sucesso e dinheiro secretamente.

Geração de hipócritas. Todos querem, mas é feio demonstrar. E se falar demais, rapidamente “empobreça” a sua história e sua experiência. Humildade em primeiro lugar. Blah!

E tenho observado que esse tipo de julgamento nada tem haver com classe social. Não são as pessoas mais humildes que se incomodam, e sim as que estão no mesmo nível social de quem conta a história. É como dizer que sente inveja da Gisele Bundchen. Ninguém de fato sente inveja de uma modelo maravilhosa, multimilionária com uma família perfeita. Essa realidade está muito distante. A inveja existe das pessoas que possuem o mesmo que nós e que de algum jeito, conquistam bens materiais ou pessoais que não possuímos (ou que não investimos).

Ou seja, quem está feliz com a própria vida, dificilmente irá colocar energia negativa na conquista do outro. O sucesso alheio incomoda quem está infeliz e que involuntariamente não está pronto para demonstrar para o outro um interesse sincero.

E é claro que ninguém é feliz o tempo todo, mas acredito que felicidade não é aquilo que tiramos do Mundo, e sim o que oferecemos à ele. Felicidade não vem das pessoas que nos relacionamos, mas das relações que oferecemos à elas.
Pois bem, eu ofereço o meu interesse pelo novo antes de qualquer superficialidade.








Bailarina fora dos padrões posturais, atriz sem sucesso, estilista mal compreendida, me formei por fim em Marketing e me especializei em Invenções Tecnológicas e Redes Sociais. Hoje trabalho, estudo e escrevo para falar menos sozinha. Adoro moda e simpatizo com pessoas pelo tênis que usam, antes mesmo de trocar um “olá”. Sou apaixonada por cinema, séries de tv, viagens, artes e animais. Prefiro ser chamada de “admiradora investigativa” do que “stalker profissional”.