Então há o carrasco e a vítima, o mocinho e o bandido, o bem e o mal?

Não!

Não funciona assim na vida real, então vamos olhar para esta estranha mania de nos vitimizarmos diante de quase tudo.

Temos uma vida e o que se espera é que sejamos o protagonista dela, o diretor, o condutor da charrete, o responsável por cada um de nossos atos.

Vivemos em um país de terceiro mundo e o que vi estudando e viajando por outros cantos foi que a vitimização é maior em países de origem latina e em países pouco desenvolvidos.

Parece-me que os países de primeiro mundo são povoados por pessoas mais assertivas e menos propensas a se ofender e se vitimizar por qualquer coisa. Fico pensando se o não é inclusive esta característica de seu povo que leva estes países ao desenvolvimento.

Vitimizar-se diante de tudo nos tira completamente a capacidade de ação e de responsabilidade sobre as nossas escolhas e as consequências destas. Se é sempre culpa do outro e se sempre arrumamos um jeito de responsabilizar o outro ou o mundo ou Deus ou o diabo ou quem quer que seja, nunca teremos que mudar nem tampouco melhorar nada em nós mesmos.

A vítima é sempre digna de pena, é a coitadinha, porém, acreditem: a pena (o dó) é o pior sentimento que alguém pode nos dedicar.

Fazer-se de vitima e tentar fazer com que o outro sinta pena de você é um comportamento que esconde uma imensa covardia diante da vida e uma falta de comprometimento como cidadão ativo perante a sociedade.

O enfrentamento é o mínimo que se espera diante dos obstáculos que todos nós teremos. A capacidade de superação faz parte do percurso. Perder algumas vezes também. Não sairemos ilesos deste jogo chamado vida, nem da dor e nem do sofrimento. Responsabilizar sempre o outro e comportar-se como sendo sempre a vítima da circunstância fará de você um indivíduo fracassado e solitário: ou você acha que os outros gostam de conviver com quem sempre se faz de vítima? Afinal se você é a vítima a culpa será sempre deles! Não há quem suporte isso!

Ao invés de se comportar sempre como sendo a vítima lesada e inocente, seja o protagonista. Se alguém lhe fizer mal, supere e simplesmente siga. Pouco importa se você ou o outro foi o culpado. A culpa não serve para muita coisa na nossa existência. Há uma lei de causa e efeito que nos rege. Você faz, você paga.

Muitas vezes nos farão mal, com o sem intenção. Muitas vezes nós também faremos mal aos outros, mesmo sem querer, então, não há vítimas neste palco. Intercalamos os papéis – exatamente para aprendermos. Trocar papéis significa se colocar no lugar do outro e esta é a forma mais eficaz de evoluir e fazer algo de útil para a sociedade na qual vivemos.

Não se faça de vítima, escolha um papel mais ativo, afinal de contas as vítimas passam o filme todo sofrendo. Não tenha pena de si mesmo, pois este é o sentimento mais desprezível que se possa ter por si e pelo outro. A pena não nos faz agir. E mais, olhe nos olhos de pessoas que realmente estão sofrendo neste momento e você vai descobrir algo muito bacana: quando uma pessoa sofre de verdade, ela não se faz de vítima.








Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...