Por: Amanda Santos de Oliveira

Sabemos da existência dos nossos sentimentos e lidamos com eles dia após dia. Mas, muitos acreditam que estes sentimentos são seres abstratos e sem forma, guardados em algum lugar na cabeça ou talvez no coração. Esse ser disforme que a gente não sabe direito onde está, muitas vezes foge ao controle, como se escapasse da sua jaula interna.

Nesses casos, vemos por aí que precisamos aprender a controla-los. Facilmente podemos encontrar dicas de como domar essas “ferinhas internas”. Mas, de alguma maneira ainda não conseguimos fazer isso. Para isso é preciso entender melhor quem são esses “seres internos” e como eles influenciam nossos comportamentos e ações.

O que são sentimentos?

Segundo apresenta Guilhardi (2002)[1], os sentimentos, não são seres mentais e abstratos. Eles estão aí, concretamente e se manifestam em nosso organismo. Por exemplo, uma pessoa que está ansiosa, apresenta alterações no ritmo dos batimentos cardíacos. Assim como, uma pessoa alegre pode apresentar as mesmas alterações.

Além disso, muitos se confundem ao pensar que os sentimentos são causadores de nossas ações. Segundo aponta o autor, não é correto dizer que uma pessoa bateu na outra porque estava com raiva. A raiva é toda uma interação e não apenas aquele momento isolado. Portanto, para entender tal ação, seria necessário avaliar atentamente quais foram os eventos antecedentes (que eu chamaria de contexto amplo) que produziram os comportamentos e os sentimentos.

Emoções versus Sentimentos

A emoção, segundo apresenta Damasio (2004)[2], não é atribuída apenas aos humanos. Mas, em nosso caso, podemos não só ter prazer sexual ou medo (emoções que animais também possuem), mas também, termos compaixão com o sofrimento de outras pessoas, ficarmos encantados com um sorriso ou tantas outras emoções que são trazidas pelo que o autor chama de refinamento da emoção humana. O conceito de emoção e sentimento é bem próximo, mas possui uma distinção que na prática facilita bastante a sua identificação. Segundo Damasio (2004), o impacto das emoções está diretamente ligado aos sentimentos envolvidos. Portanto, os sentimentos, seriam privados e voltados para dentro, já as emoções são públicas e voltadas para fora.

Ainda, é necessário entender que nem sempre temos consciência de nossos sentimentos. Assim como discute o autor, um organismo pode representar padrões neurais e mentais que denominamos de sentimentos sem jamais saber que ele existe. Na verdade, existem muitos indícios de que não temos consciência de todos os sentimentos. O autor apresenta um exemplo prático que facilita bastante a compreensão: se em determinada situação de repente nos sentimos ansiosos, inquietos, satisfeitos ou descontraídos, o sentimento que acabamos de tomar conhecimento, não apareceu neste momento, mas algum tempo antes. Logo, quando uma emoção aparece, o sentimento por ela desencadeado, já estava ali, mesmo que ainda não houvesse se manifestado.

Inteligência Emocional – Como controlar minhas emoções?

O conceito de Inteligência Emocional tem sido utilizado como uma habilidade. Segundo apresenta Woyciekosk (2009)[3], tal inteligência envolve a capacidade de perceber, avaliar, gerar, compreender e conhecer emoções. Dessa forma, se torna possível controlar emoções a fim de crescer emocionalmente e intelectualmente. No entanto, para conseguir controlar as emoções para um determinado fim, é necessário possuir habilidades anteriores, como se fossem pré-requisitos.

Segundo apresenta o autor, o “requisito” mais básico, seria o da percepção emocional. Tal percepção diz respeito à aptidão de reconhecer distintas emoções em si e saber expressa-las em situações sociais. Ainda, a partir da ideia de que as emoções podem ser facilitadoras do pensamento, o autor aponta que, existe uma capacidade do pensamento gerar emoções, assim como as emoções podem influenciar um processo cognitivo. Logo, os passos a serem seguidos se tornam mais fáceis de compreender: pessoas que são habilidosas com suas emoções tendem a usar emoções positivas para desenvolver criatividade e processar uma informação de forma integrada. Pensar dessa maneira, como discute Woyciekosk (2009), faz com que seja necessário menos esforço no processamento de informações e na resolução de problemas de ordem emocional.

Como posso tentar?

Conforme discutido acima as emoções e sentimentos estão conosco e é possível controla-los. Não digo que será fácil, mas certamente não é impossível. Para tal, será necessário prática, paciência e acima de tudo autoconhecimento. Este é o primeiro passo: conhecer-se. Se alguma situação te faz “perder o controle”, pense em qual sentimento está envolvido nesta situação. Mas, o caminho como vimos acima, não é justificar suas ações com tais sentimentos.

Os sentimentos são internos e precisamos entendê-los para melhor lidar com eles. Provavelmente, você precisará de ajuda para identifica-los e aprender a viver com eles e a psicoterapia poderá te ajudar com isso. Mas, as ações provocadas pelas emoções são atos voluntários. Em algum momento, você decide se grita, bate, foge, conversa, sorri, abraça, respira, etc. As suas emoções não podem controlar isso e essa decisão será sua. Você é dono de suas emoções e sentimentos e não o contrário.

Se posso te dar uma dica é: não se justifique. As justificativas servem apenas para dizer a nós mesmos que está tudo bem agir daquela forma. Portanto, se responsabilize pelas reações que você tem tido nas situações do cotidiano e aprenda com suas emoções. Não pense que “no calor do momento” não é possível agir diferente. Se o momento está quente, espere esfriar. Se você está com raiva, inseguro ou ansioso, pense, racionalmente sobre o assunto. Pare um pouco, espere as reações físicas passarem, porque elas vão passar. Exercite suas emoções, pratique e veja a situação sobre outro ângulo. Isso não quer dizer que você nunca mais irá sentir raiva ou que não deveria sentir. Mas, apenas que você terá mais controle sobre si e poderá decidir qual a melhor reação a se tomar em uma determinada situação.

Referências:

[1] GUILHARDI, Hélio José. Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In: BRANDÃO, Maria Zilah da Silva et. al. Comportamento Humano – Tudo (ou quase tudo) que você precisa saber para viver melhor. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2002. Disponível em: . Acesso em 05 de dez. de 2016.

[2] DAMASIO, Antonio. Emoção e sentimento. In: O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si. Companhia das Letras, 2004.

[3] WOYCIEKOSK, C.; HUTZ, C.S. Inteligência emocional: teoria, pesquisa, medida, aplicações e controvérsias. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22(1),1-11. Disponível em: