Há muito tempo, quando eu ainda trabalhava na Atlântida, em uma das minhas muitas conversas filosóficas com o meu colega de ilha, eu tive uma epifania. Um daqueles momentos divisores de água. O Luciano Lopes, mais conhecido como Potter, tinha muitas teorias das quais eu discordava sobre relacionamento, mas uma delas me mudou de forma definitiva. Na época eu namorava um cara, e jurava que ele era pra sempre. O Potter então me disse que aquele namoro estava fadado ao fracasso, simplesmente porque eu não admirava o meu namorado. E que relacionamentos precisavam ter como base a admiração mútua do casal.

Lembro que na época eu apenas fiquei puta da cara com o comentário impertinente, e pensei que aquilo era apenas um papinho furado dele com a intenção de eventualmente me comer. Mas a teoria da admiração se confirmou. Naquele namoro, e em outros. O amor (ou mesmo a paixão) encerrava a partir do momento que eu me dava conta de que eu não admirava ou que tinha deixado de admirar a pessoa com quem eu estava. A situação chegou a ficar tão gritante em um dado momento, que meu irmão avisou-me de um fim de namoro, antes mesmo que eu desse conta de que ele havia terminado:

Você precisa e admira o fulano, da mesma forma como precisa e admira uma samambaia no canto da sala.
Pronto. O namorado virou ex-namorado porque eu nunca mais consegui enxergar ele de outra forma a não ser como uma planta no canto de um cômodo qualquer.

Essas mudanças de percepção começaram a mexer com a forma como eu via o mundo e as minhas conexões. Não apenas nos relacionamentos amorosos, como nos profissionais. Eu passei a não ter paciência para ambientes inertes. Comecei a sentir necessidade não apenas de respeitar a minha hierarquia, mas de admirá-la. Não precisava ser na sua plenitude, mas eu precisava admirar ALGUM atributo que fosse da pessoa que conduzia a minha equipe. O meu projeto, e bem… que tinha parte ativa em pelo menos 8h da minha vida.

Partindo do pressuposto de que se você se considera a pessoa mais inteligente da sala, você provavelmente está na sala errada, eu comecei a sair das salas. E comecei a procurar lugares mais estimuladores, pois reconheci o poder de contágio da atmosfera profissional. Marasmo promovia marasmo. Agitação gerava agitação. Tipo inércia. Tudo que eu queria encontrar era alguém suficientemente admirável para me convencer de ir à lua, que eu seria a primeira a começar a construir o foguete. E foi assim que eu fui trabalhar com gente que me dava tesão. Tesão de vida, de atitude, gente com tesão de pegar os problemas pelas bolas e dizer “vai encarar, seu filho da p***?”.

O efeito no meu desempenho foi imediato. Afinal, a inspiração, bem, essa é outra coisa que sabe ser contagiante.

Hoje a admiração é uma das vertentes que orienta todos os meus relacionamentos. Eu passei a filtrar as minhas amizades por admiração, ao invés de conveniência. E o filtro é bem sincero, e duro algumas vezes. Eu não dedico mais tempo com gente que me entendia. Com quem se entendia. E essa decisão partiu da triste realidade de que temos cada vez menos tempo para sorrisos amarelos e meios abraços. Hoje eu exijo intensidade nas minhas relações. Todas elas. Exijo retorno de ligações. Suspiros sinceros. Hoje eu quero beijos mais longos. Orgasmos mais intensos. Projetos mais ousados. E voltando pro foguete, quero ver estrela brilhar, quero ser estrela. E tudo, meus amigos, é parte da admiração. Admiração que a gente busca e também que promove. Nos momentos, nas conversas, nas trocas, nas conexões.

Até porque, a vida é muito curta para ser a samambaia no canto da sala. Ou se relacionar com ela.








Uma questionadora fervorosa das regras da vida. Viajante viciada em processo de recuperação. Entusiasta da escrita. Uma garota no divã figurado e literal. Autora do blog antonianodiva.com.br.