A psicoterapia não cria nem destrói, transforma. Isso não é estranho se levarmos em conta o efeito que a terapia psicológica tem no nosso modo de pensar, no nosso jeito de sentir e se emocionar, assim como na forma como nos comportamos.

Essas mudanças se refletem inclusive em um nível cerebral de forma duradoura, ajudando nosso corpo e nossa mente a se sintonizarem em uma mesma frequência graças à criação de uma coerência psicológica que conseguimos através da psicoterapia. Essas afirmações não são fruto de sorte ou de uma opinião qualquer, mas sim fundamentadas em estudos de neuroimagem. Ainda assim, no entanto, temos sempre que tomar cuidado com qualquer afirmação pra que não tornem o sentido de algo muito reducionista.

É certo que sabemos menos sobre nosso cérebro do que sobre o planeta Marte, mas atualmente e graças aos avanços tecnológicos que nos permitem visualizar nossa atividade cerebral, podemos obter dados sobre como nosso cérebro se transforma durante a psicoterapia. Vamos ver mais sobre isso…

As maravilhosas mudanças que a terapia produz

A relação entre as mudanças mentais e as cerebrais é bidirecional. Isso quer dizer que, por exemplo, mudar nossos pensamentos pode transformar nosso cérebro e vice-versa. Não obstante, ainda que não possamos afirmar com plena segurança quais são essas modificações. Podemos e temos, no entanto, pistas de como isso acontece:

O estudo de Wiswede e colaboradores encontrou mudanças na hiper excitabilidade do sistema límbico de pacientes depressivos depois de oito meses de psicoterapia de orientação psicodinâmica.

Outros dos estudos aos quais estamos nos referindo associam as mudanças cerebrais que acompanham a melhora que a psicoterapia traz em casos de depressão a uma variação nas zonas envolvidas na resolução de problemas, a autopercepção e o controle emocional.

Em casos de ansiedade como as fobias, o pânico e o estresse pós traumático, também foi observada a existência de mudanças neuronais nas pessoas que frequentam a terapia, concretamente no sistema límbico, em zonas temporais e frontais. Claro que isso vai depender do problema de origem e de sua etiologia.

Os benefícios que as pessoas que já receberam apoio psicológico adequado obtêm se traduzem em uma melhora de seu bem-estar pessoal em todos os níveis. Agora, a evolução depende em grande parte da própria pessoa querer melhorar. Há uma piada muito certa que nos ajuda a compreender isso: “Quantos psicólogos são necessários para trocar uma lâmpada? Só um, mas a lâmpada deve querer ser trocada”.

É verdade que podemos encontrar psicólogos negligentes, pois como em qualquer outra profissão existem pessoas que não desempenham bem o seu trabalho. Por isso, na hora em que decidimos ir para a terapia para evoluir e nos conhecer, devemos buscar muito bem o profissional com o qual queremos trabalhar, deixando totalmente de lado as pessoas que prometem curas sem serem psicólogos ou psiquiatras, assim como aqueles que têm costumes ruins nas suas práticas.

Às vezes o apoio de um psicólogo é fundamental para ajudar a superar certas dificuldades

O apoio de um psicólogo é a chave na hora de dar coerências a nossas dificuldades e assim articular sua superação. Nem sempre que precisamos de terapia temos um transtorno mental, e nem sempre a psicologia se baseia no senso comum.

O papel do psicólogo não é também descobrir como somos sem que nós o contemos a ele, e do mesmo modo os psicólogos não passam os dias analisando as outras pessoas (na verdade, psicoanalisar só os psicanalistas fazem, e para isso precisam realizar um custoso trabalho terapêutico).

Para finalizar, cabe destacar outra falsa crença muito incrustada na mente coletiva: ir para a psicoterapia equivale a falar com os amigos, e por isso não tem sentido pagar um psicólogo. Tal como afirma Nathan Feiles, esta ideia está errada principalmente por dois motivos:

Nem todas as pessoas têm um bom amigo próximo para ajudá-las.

Desabafar e falar é ótimo e, realmente, constitui uma parte importante da psicoterapia, mas não a única. Ainda que esse ato possa ser útil e aliviar o estresse, se for mal gerido, no entanto, pode causar ainda mais problemas. Não podemos deixar de prestar atenção a certos processos cognitivos e emocionais que acompanham os nossos problemas.

O psicólogo que é terapeuta é uma pessoa com extensa formação cujas habilidade vão mais além das de escuta ordinária ou de uma conversa íntima. Sua objetividade e seus conhecimentos o fazem conseguir criar um marco equilibrado que se torna uma referência, e assim permite que seja desfeito o nó da nossa mente para que sejamos guiados pelo caminho que queremos.

Essas são falsas crenças que devemos evitar e que nos ajudarão a ter mais claro o trabalho pelo meio do qual conseguimos avançar. Por isso, se temos uma inquietude e estamos querendo procurar a terapia, seja qual for o tipo de dificuldade que sintamos, é bom derrubar esses mitos e pedir ajuda profissional. Assim, não seremos mais impedidos de nos libertar e poderemos aproveitar um processo terapêutico que traz tantos benefícios.

Para finalizar, e com a intenção de fechar esse artigo com chave de ouro, deixamos a seguir um curta-metragem espanhol que ilustra maravilhosamente e de forma lúdica o trabalho do psicólogo.

Referências:

Barsaglini, A., Sartori, G., Benetti, S., Pettersson-Yeo, W. & Mechelli, A. (2014). The effects of psychotherapy on brain function: A systematic and critical review. Progress in Neurobiology, 1–14.

Wiswede, D., Taubner, S., Buchheim, A., Münte, T.F., Stasch, M., Cierpka, M., Kächele, H., Roth, G., Erhard, P. & Kessler, H. (2014). Tracking functional brain changes in patients with depression under psychodynamic psychotherapy using individualized stimuli. PloS One (2014). DOI: 10.1371/journal.pone.0109037.