Um fim de semana qualquer fui à praia – sou fã da atmosfera litorânea. O cheiro da maresia, o sol quente, o mar azul e a areia fofa me proporcionam uma paz que a cidade me tira todos os dias. Quando reencontrei o mar, fiquei deslumbrada com sua cor e calmaria. A água estava tão cristalina que eu podia ver meus pés. Fiquei parada admirando aquela imensidão, quando resolvi trocar algumas palavras com o oceano.

Quando perguntei se estava tudo bem, rapidamente o mar retrucou dizendo que estava vivendo dias terríveis. Ele não entrou em detalhes comigo, mas fiquei me questionando como algo tão belo em sua superfície poderia estar sofrendo tanto em suas profundezas. Foi quando tive um clique em minha cabeça e algo que estava completamente adormecido me fez refletir mais do que eu imaginava.

Quantas pessoas por ai são tão belas em suas superfícies, mas vivem batalhas internas horrorosas que ninguém se dá conta?

Quantas vezes julgamos equivocadamente alguém que não está de bom humor ou que deu uma resposta atravessada para nós, por não sabermos o que realmente se passa dentro daquele ser?

Eu mesma, assim como todos ao meu redor, tenho minhas lutas diárias – algumas consigo vencer rapidamente, outras se prolongam por muito mais tempo do que gostaria. Então por que é tão difícil me lembrar de que aqueles que me rodeiam também possuem suas lutas diárias?

Foi assim que me dei conta de que provavelmente seja porque não enxergamos essas lutas e nos esquecemos de que por trás de cada pessoa há uma batalha intensa sendo vivida constantemente.

Todo mundo tem problemas e dores que precisam ser trabalhados, mas nós nos esquecemos. Seja porque somos muito egoístas e só olhamos para o nosso próprio umbigo, seja porque as pessoas parecem bem na superfície. Afinal, são poucos os que gostam de mostrar suas vulnerabilidades para o mundo.

Assim como o mar, belo e pleno em sua superfície – mas com tremendas tormentas em suas profundezas – muita gente parece bem na aparência. Acredito que o melhor que podemos fazer é nos lembrarmos sempre de que por trás de todo ser humano existem dilemas e grandes batalhas sendo resolvidos.

Quem sabe, assim, julgaremos menos (bem menos) uma pessoa que não tem um sorriso estampado no rosto 24h por dia e seremos mais gentis e dóceis com quem cruza nosso caminho diariamente.








Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.