Um dia qualquer estava sentada no banco de um shopping e parei para analisar as pessoas ao meu redor. Comecei a reparar que, praticamente todos os casais que passavam por mim, andavam de mãos dadas. Não que eu já não tivesse notado isso antes, mas comecei a me questionar o porquê disso. Quer dizer, há alguma razão específica para entrelaçarem as mãos quando estão andando pela rua ou shopping? Fiquei alguns minutos me questionando sobre aquilo. A pessoa ao seu lado não vai sair correndo e fugir, que você precise segurá-la, não é mesmo? Ou você apenas precisa mostrar para os outros que ela é sua?

No fim das contas, parei de tentar encontrar sentido para uma coisa aparentemente tão banal e conclui que andar de mãos dadas não tem nenhum sentido específico. As pessoas simplesmente fazem isso porque querem, porque é bom segurar na mão do outro, porque estão apaixonadas. E finalmente entendi que isso é amor: falta de sentido.

Quando amamos, sentimos loucuras. Pior: fazemos loucuras. Nos submetemos a situações que já chegamos até a julgar como erradas quando estamos na posição de espectadores. Mas quando somos nós que vivenciamos, achamos justo nos submetermos a tantas coisas. Achamos justo viver tudo da forma mais intensa possível, mesmo que isso resulte em desastres mais tarde. Mas qual é o sentido de fazer tudo isso por outra pessoa? Tudo isso é a busca por felicidade? Então, nossa felicidade depende do outro? Há algum sentido nisso?

Acho que algumas pessoas, assim como eu, acreditam que boa parte da felicidade está em encontrar um amor. Esta, apesar de não ser a única fonte de felicidade, é importante para o conjunto como um todo. Podemos sim ser felizes apenas com nós mesmos, mas entre um solitário copo de cerveja nas sextas-feiras e uma xícara de café acompanhada aos domingos, fico com a xícara de café (e olha que eu nem gosto de café). Toda essa descartabilidade não me enamora e, cada vez mais, tenho implorado por permanências.

Outras pessoas, por sua vez, entendem relacionamentos amorosos apenas como um “plus”, pois a felicidade não se encontra em sua grande parte alí, ou seja, no outro. Para esses indivíduos, a felicidade está mais centrada no trabalho, nas viagens, nos amigos, nas artes, na família, na religião, ou em qualquer outra coisa. Eu, como eterna romântica incurável, até hoje não vivi melhor experiência do que me apaixonar. Acho que nada faz você se sentir tão bem. E, por isso, acho difícil entender quem não deposita muito da sua felicidade em um amor.

Independente disto, o que eu finalmente consegui entender a partir da minha análise de casais que andam de mãos dadas, foi que não há sentido nenhum no amor. E é isso que faz dele algo tão bom. Amar alguém é a junção de um emaranhado de sentimentos estranhos, desejos malucos e vontades extremas. E tudo isso por uma única pessoa. Qual é o sentido disso? De concentrar tantas energias em uma pessoa. De depositar tanta confiança em um relacionamento. De acreditar que a felicidade pode ser feita a dois. Não vejo sentido nenhum nisso. E acho incrível.

Entendi que o amor está na falta de sentido, pois amores racionais são impossíveis. Tudo deve ser sentido e não pensado. E quanto mais sentimento, menos sentido. Quanto menos sentido, mais amor. Então, ande de mãos dadas, faça loucuras, expresse seus desejos e aprecie a falta de sentido, pois é aí que está a forma mais pura de amor.








Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.