Não faz nem dois anos que descobri que existia um guru brasileiro chamado Prem Baba, seguido essencialmente por pessoas de classe média alta e atores bem conhecidos da Globo. Este homem, que teria alcançado a iluminação, era um terapeuta já bem conectado à espiritualidade quando fez uma viagem à Índia – seguindo uma visão da adolescência – e encontrou seu guru, transformando-se.

Há dois anos, eu não acreditava nem na minha sombra, quanto mais em gente iluminada. Demorei a absorver essa história. Vinha de uma perspectiva de luta social, e a ideia de alguém mudar o mundo a partir de cursos e retiros caros me parecia inviável.

Não me sentia conectada ao que ele compartilha, embora nunca tenha ouvido ele falar nenhum absurdo.

Mas só. Nesse primeiro ano de “despertar”, convivi de perto com gente bem ligada ao movimento que ele criou, Awaken Love, e em nenhum momento entendi aquilo como charlatanismo. Ele tem algo a passar, ouve quem se identifica. Segue ele quem sente vontade. Ele não bate na porta de ninguém, não liga pedindo dinheiro, não te persegue na porta do metrô para que contribua.

Valores da Awaken Love. Te parecem muito nocivos?

Não conheci uma alma que tenha ficado pior depois de ser inciada por ele. Que tenha dado seu dinheiro e ficado pobre, que tenha tomado alguma decisão maluca que a prejudicou. Pelo contrário. Como acontece geralmente a quem tem fé, prospera.

O que vi é o reflexo da personalidade de cada um, da formação de cada um, ou seja: quem você é (ou está, pra sermos mais otimistas), reflete em como você se dedica a uma causa. Logo, o que vi é que algumas pessoas, ao invés de absorverem o que ele diz, se apegam à imagem.

Aos poucos, eu fui mudando minha visão pessoal sobre ele, a partir de uma série de fatos estranhos que me aconteceram, mas também por entender um pouco mais sobre o que é esse movimento e ver como há informações distorcidas por aí. E isso, independentemente de ter ou não conexão com ele, me incomoda profundamente.

O conteúdo

Uma coisa que sempre me falaram à respeito dele, como crítica, é que ele recicla conteúdos clássicos, como Pathwork, e baseia seu trabalho nisso.

Bom, ele é um psicólogo. É um estudioso. Se você entrar no site dele e ler sobre suas influências e angústias, entenderá que… é exatamente isso. Ele bebeu em diversas fontes e hoje compartilha, a partir do que entende do mundo e do que recebe, uma síntese disso tudo. Você não precisa mais criar a roda, mas pode aperfeiçoar pneus… Sinto falta dele citar as fontes nos livros e textos, até para despertar uma busca mais ampla em quem lê. Mas também percebi que quem se interessa, vai longe.

Alto Paraíso

É a situação mais complexa, porque ao mesmo tempo que envolve um trabalho em seu ashram em Alto Paraíso, cidade mística e mágica no interior de Goiás, pelo qual eu realmente me encantei, também engloba uma questão comunitária forte, da qual eu quero falar mais adiante em outro texto, porque já vivi isso intensamente ao menos duas vezes (no Vidigal, favela carioca, e no sertão do Cariri).

A questão mais latente hoje é a da construção das 500 casas em uma ecovila de sua sangha. Eu não sei nada ainda sobre isso, mas se for nestes termos, definitivamente causaria um impacto em uma cidade localizada num parque nacional, que hoje tem uma população de 7 mil habitantes. Pensando em quatro pessoas por casa, seriam mais duas mil almas utilizando recursos e deixando seus dejetos na Chapada.

Ao mesmo tempo, se essas 500 famílias decidirem ir pra lá por conta própria, mesmo morando longe do ashram, podem comprar terrenos e casas por valores irrisórios perto do que temos em São Paulo. Se você vender uma kitnetzinha no centro, compra uma casa de três quartos na região. E ninguém poderá impedir. Então a questão não é só sobre as casas, mas sobre a presença do ashram lá.

Abraçar políticos de direita

É incômodo ver o Prem Baba tirando fotos com políticos que não têm qualquer amor pela população que os elegeu como representantes. É difícil de entender.

Muitos de seus seguidores também sentiram essa dor, mas entendem esta atitude como levar luz à sombra. Eu realmente não sei o quanto quem vê uma foto dele com o Dória vai entender isso. Ou alimenta a sombra, ou traz dúvidas sobre a luz. Se fizesse parte do núcleo mais próximo, desaconselharia…

É só pra gente rica?

Vamos aos fatos: ouvir o Prem Baba é de graça ou tem valor acessível caso seja em um lugar fechado. Seus satsangs são transmitidos ao vivo pela Internet, estão transcritos e disponíveis nos canais online. Pessoalmente, você pode ouvir ele de graça na temporada, ou ir a eventos em que ele cobra uns 40 reais, geralmente em lugares que são alugados para este fim.

Se você quiser se hospedar no ashram dele, isso tem um preço. Se quiser comer, usar as piscinas, tem preço. Mas se quiser só ir lá ouvir na temporada, não.

Às vezes ele participa de uns eventos super caros, mas até agora vi também suas falas serem transmitidas nestas ocasiões.

Pois bem. Então por que ele não é famoso em Itaquera ou no Grajaú? Por que tanta gente com grana segue ele?

Porque o que ele diz é meio inatingível quando você está ainda preocupado em sobreviver.

Quando precisa pegar dois ônibus e um trem pra chegar no trabalho e não tem tempo pra refletir sobre o que está fazendo aqui, a serviço de quem realmente está existindo. Como falar de amor incondicional para alguém tão oprimido que elege e deseja inconscientemente ser um opressor?

Isso só vai fluir quando estas pessoas tiverem condição de pararem para dar um passo atrás e olharem a sua vida não só por outro viés social, mas também como indivíduos plenamente responsáveis por si mesmos. E isso, por tabela, só vai acontecer quando uma parcela da sociedade que já está desperta conseguir agir para mudar também o bem-estar coletivo.

Então, oxalá que o autoconhecimento chegue às pessoas ricas. Chegue aos milionários. Um milionário consciente pode mudar a vida de uma massa.

Mas e eu, e você que queremos fazer um curso legal, estamos mais ou menos conscientes e não temos grana? Posso falar por mim: tenho capacidade para viver muito melhor do que vivo hoje, e sei que não estou de maneira alguma utilizando nem 10% dela. Também sei que quando a gente entra num fluxo, o dinheiro surge. (Eu queria voar no pescoço de quem me dizia isso, até acontecer comigo nesse ano).

Dito isso, qual minha relação com o universo do Prem Baba?

No segundo semestre de 2017 comecei a sentir uma estranha ligação com essa história. Como eu disse, mesmo ouvindo falar dele todos os dias, não tinha nenhum interesse espiritual nele, no máximo uma curiosidade.

Após uma violenta ruptura na minha vida, veio uma inexplicável atração pelo universo dele. Acompanhei as transmissões da temporada, sem entender por quê. Três meses depois, parti para uma viagem de autoconhecimento, e por razões que a razão não explica, fui parar em um curso de massagem num espaço que, até então eu não sabia, é o ashram permanente dele em Alto Paraíso e senti as coisas mais indescritíveis do mundo. O máximo que consigo explicar é que muita coisa fez sentido.

De lá, fui para o Osheanic Internacional, em Aquiraz (Ceará), em um festival de práticas de autoconhecimento, onde umas 15 pessoas desconhecidas se lembravam de mim da temporada dele, onde não estive.

Por fim, o curso de massagem me rendeu uma viagem a Piracanga, no sul da Bahia, para conhecer o OshoBahia, espaço de discípulos dele, em uma ecovila que está sendo espiritualmente entregue a seus cuidados.

Lá, encontrei resposta para um estranho fenômeno que se repetiu ao longo dos meses em meditações de Deeksha e também num trabalho de ayahuasca. Tinha sempre uma mesma visão, dele tirando uma máscara, como se fosse a pele do rosto, e por trás tinha um homem extremamente velho. Passei meses com isso na cabeça, até que contei essa história para um cara alemão que estava lá na casa e tinha voltado do retiro de silêncio em Alto Paraíso. Ele me falou para olhar as fotos de uma sala do centro Inkiri, onde ainda não tinha entrado. Nela, havia uma sequência dos mestres dele (o mestre do mestre do mestre). Não sei o nome do último, mas era ele “sem máscara”. Soube que este homem teria vivido 400 anos e fiquei meio surpresa… (pra dizer o mínimo)

A linhagem dos mestres na oca em Piracanga

Hoje tenho um “relacionamento virtual” com ele. Não faço parte de sua sangha (ou seja, não realizo atividades presenciais em comunidade): ainda não acompanhei as temporadas, não fui a retiros ou realizei cursos dele, tomei chá ou fiz seva em seu espaços. De vez em quando compartilho uma “Flor do Dia” (pílulas diárias que ele publica no Facebook), ouço um trecho de satsang que caiu na rede…

Digo “ainda” porque estou me mudando para Alto Paraíso, pra viver a minha história, mas a dele é onipresente lá.

Há uns dias, voltando de Alto, tive um sonho bastante interessante em que eu seguia ele e o Sai Baba – que eu mal sabia quem foi (e descobri que já morreu) -, e tudo tinha ficado harmonizado em meu entorno. O sonho foi no dia do nascimento do Sai Baba e, pesquisando, soube que o encontro dos dois (após uma visão do Prem Baba), foi a inspiração para a criação de dois cursos básicos dele: ABC da Espiritualidade e Caminho do Coração.

A partir de tudo isso, me senti impelida não só a dar minha opinião, mas a levantar uma visão mais “caminho do meio” sobre ele.








"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.