Ciganas que dizem ser capazes de enxergar o futuro, médiuns que afirmam ter o poder da cura, cartas de tarô, bolas de cristal, adivinhações… Desde que o mundo existe, fenômenos paranormais ou sobrenaturais sempre estiveram em evidência não só na ficção, mas também na vida real, embora a ciência nunca tenha dado crédito a alguns deles. Por isso, hoje pouco se sabe sobre o assunto, até porque uma grande quantidade de pessoas se valem de qualidades inexistentes e aproveitam a credulidade e ingenuidade alheia para adquirir riqueza e fama. São os famosos charlatões.

O que você vai conhecer agora, porém, não faz parte de um filme de ficção ou livro de estórias sobre o desconhecido. Pelo contrário, trata-se de ciência mesmo — o caminho mais correto para se comprovar ou contestar uma tese, por mais absurda que ela possa parecer, na opinião de especialistas. A exemplo disso, uma pesquisa está sendo desenvolvida pelo Núcleo de Estudos Paranormais da Universidade de Brasília (Nefp/UnB). No intuito de estudar a mente humana e suas potencialidades, os pesquisadores passaram a acompanhar, desde o início deste ano, as hipóteses diagnósticas feitas por sensitivos a pacientes voluntários do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Até o momento, já foram relatados pelo menos 60 prontuários.

Por meio de mensagens auditivas, visões do organismo humano ou frases diretas no pensamento, os paranormais brasilienses relatam um parecer sobre a saúde, sem a necessidade de tocar ou conversar com ninguém. Alguns até afirmam sentir a mesma dor que a do paciente. Responsável pelo núcleo de estudos da universidade, o físico Álvaro Tronconi prefere chamar essas pessoas de sensitivas, em vez de paranormais, como popularmente são conhecidas.

Diante dos fatos, segundo ele, é possível afirmar a existência de algum tipo de interação entre o sensitivo e o paciente, a denominada assimilação parassimpática. Apesar disso, ainda não se sabe que faixa de frequência cerebral é essa, capaz de captar informações, e se é possível estabelecer um padrão. “Os próximos passos consistem em cruzar essas informações com o prontuário médico dos pacientes, além da avaliação de sensitivos de outros estados e países. Estabeleceremos uma pontuação, pois nesses casos é impossível pensarmos em resultados estatisticamente aceitáveis”, explica.

Normalidade
Para os estudiosos no assunto, a paranormalidade está mais perto do que se imagina dos seres humanos normais — fator que cada vez mais distancia esses fenômenos do universo místico e religioso. Além disso, profissionais da saúde já estão preparados, atualmente, para diferenciar potencialidades da mente humana de doenças psíquicas. “A condição pessoal de cada um desses sensitivos, bem como o meio em que vivem, vão determinar essa capacidade mental. No geral, pessoas com distúrbios ou que habitam ambientes não saudáveis têm mais dificuldades de evoluir”, afirma o parapsicólogo clínico e fundador do núcleo da UnB, Joston Miguel, autor do livro recém-lançado O domínio da mente superconsciente, resultado de 35 anos de pesquisa sobre os fenômenos da mente humana.

A funcionária pública Maria*, 47 anos, afirma receber mensagens auditivas esclarecedoras, a respeito da saúde de qualquer pessoa, estando ela presente ou não. A sensitiva, que participa da pesquisa da UnB, desde fevereiro, diz que as orientações recebidas são provenientes de seus mentores. “Hoje, sigo a doutrina espírita, porém minha família nunca entendeu essa potencialidade. Quando pequena apanhei muito por conta disso”, afirma.

Já Lúcia*, 53 anos, também funcionária pública, percebeu que tinha uma inteligência mental evoluída na idade adulta. A partir daí, passou a buscar informações sobre o assunto em cursos voltados para a área espiritual e científica. “Quando olho para alguém, tenho a visão completa daquele corpo, como se estivesse fazendo uma radiografia. Vejo a forma como a pessoa adquiriu a doença, onde ela está instalada e as possibilidades de cura”, conta, lembrando que nas consultas é possível distinguir males físicos de emocionais. As duas sensitivas concordam que os resultados do estudo podem vir a contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento nos hospitais. “Acredito na resolução de problemas humanos sem a ajuda de medicamentos ou intervenções cirúrgicas”, afirma Maria.

É importante lembrar que, para desenvolver a pesquisa, o núcleo de estudos paranormais da UnB elaborou um protocolo, aprovado pelos comitês de ética do HUB e do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF). Uma resolução da Agência Nacional de Saúde (ANS) também resguarda o nome de todos os participantes de qualquer tipo de exposição. Informada disso, a desempregada Joana*, 27 anos, decidiu participar da iniciativa por pura curiosidade. Depois de 10 minutos de “consulta” com os doutores do oculto, sob avaliação dos pesquisadores, ela disse achar complicada essa história de diagnóstico completo, sem contato direto com o paciente. “Mesmo sem ter acesso ao resultado, ainda acredito na mente humana. Espero que a minha participação ajude, num futuro próximo”, finaliza.