Piracanga é uma ecovila localizada na paradisíaca Península de Maraú, sul da Bahia, onde está um considerável centro holístico, o Inkiri Piracanga, que oferece retiros, terapias e hospedagem. Essa é uma confusão que não é só de quem não foi pra lá ainda, há uma questão interna deles também. Existem casas que estão dentro da ecovila, mas não fazem parte da Comunidade Inkiri e oferecem as próprias atividades. É o caso, por exemplo, do Oshobahia, razão de eu ter ido até lá e que realiza uma formação in-crí-vel de 21 dias de imersão em uma técnica chamada Osho Neo-Rebalancing.

O que vai acontecer com você se decidir ir pra Piracanga, é que vai se hospedar no Centro e vivenciar as atividades deles, ou alugar um quarto em uma das casas dos moradores (ou proprietários, porque muita gente não fica lá o ano todo ou se mudou).

Seja qual for sua opção, o que há de comum por ali é que todas as compras, sistema de transporte e regras comunitárias são centralizados pelo Inkiri, que inclusive tem uma moeda própria de mesmo nome.

E o que você vai fazer lá?

Pra começar, dar um nó na cuca.

Só de estar em um lugar absurdamente conectado à natureza, com o Rio Piracanga, que se encontra com o mar (e você pode ficar sentado no chão recebendo a água de ambos enquanto isso acontece), longe de qualquer comodidade inútil e com a consciência de que toda sua ação impacta o meio ambiente, e que ele alterado te altera, você já voltará transformado. Seja por entender seus hábitos cotidianos como nocivos, seja pelo “choque energético” que muita gente tem quando chega lá. Eu tive uma enxaqueca que durou dois dias e me fez perder o rumo. Descobri que é “normal”: tem gente que tem dor de barriga também (nada estranho para um lugar que tem uma Escola de Leitura de Aura)
Se unir isso aos retiros e atendimentos deles, ou às atividades dos outros moradores de lá, sempre focadas em autoconhecimento e terapias, talvez nada mais será como antes…

Prem Baba

A Comunidade Inkiri tem uma líder, a portuguesa Angelina Ataíde. Mas, recentemente (dois ou três anos), está mais diretamente ligada ao Prem Baba e Awaken Love, inclusive sediando os cursos deles e um Mini-Retiro de Silêncio com o mestre espiritual.

Há fotos dele por todos os cantos e diariamente um encontro para entoar os mantras ligados à egrégora dele.
A sensação é de estar em seu ashram.

A alimentação

Quando pensamos em ecovilas, também trazemos a ideia de autossustentabilidade. Mas lá eles não conseguem plantar muita coisa, porque é um terreno bem arenoso, e como são veganos, pescar está fora de cogitação.

Apesar disso, ou por isso, há uma quantidade razoável de opções para um lugar tão isolado. São três feiras-livres semanais (duas orgânicas e uma “normal”), um armazém com cereais e algumas guloseimas, um quiosque de açaí e um restaurante por quilo que abre nas três refeições diárias. A pizza aos sábados (fora do centro) é a única opção de Piracanga que não é 100% vegana, porque tem queijo.

Sem comodidades e tralhas urbanas

A energia é gerada por placas solares. Isso traz uma consciência (e também limitação) no uso de equipamentos.

Por exemplo, a água quente vem de uma caixa separada. Você definitivamente não pode ficar uma hora no banho, não só pelo consumo da água em si, mas porque ela ficará gelada e não sobrará água quente para os outros…

Celular você pode carregar (a vivo pega perfeitamente lá, incluindo internet, as demais operadoras, que eu saiba, não) de dia, enquanto tem luz. De noite todos os equipamentos são desligados.

Não é das cavernas, mas também não é fácil. A maioria das casas (o Oshobahia, por exemplo) sequer têm geladeira, por opção, mas também porque consome muita energia e é necessária uma super placa. Água gelada é do filtro de barro. Comida é fresca e feita pra ser consumida na hora.

Lixo e poluição aquática

A grande coerência de Piracanga está na real preocupação com o meio ambiente. A ideia, por lá, é deixar o rio e o mar como estão. Limpos. Que o paraíso continue assim. Então o objetivo não é, definitivamente, reciclar, mas evitar a geração de resíduos. Guardanapo, por exemplo, não tem. E o que tem de lixo é colocado em garrafinhas pet e vira… tijolo!

A preocupação com os cosméticos e produtos de limpeza está em primeiro lugar. Há por lá uma lojinha, a Plante!, que produz/vende de um tudo biodegradável: de sabão de lavar roupa a aromatizador ambiental. O protetor solar é surpreendente.

Você não é, obviamente, obrigado a comprar as coisas deles. Mas é de bom tom pesquisar os ingredientes que eles listam como poluentes antes de chegar com seu produto perto do Rio Piracanga.

Mesmo marcas muito bacanas, como a Weleda, possuem ingredientes “proibidos”.

Os banheiros

São, em maioria, secos ou semi-secos. Isso quer dizer que você fará xixi em um recipiente e cocô no outro. Quando fizer xixi, é em um espaço que se parece mais ou menos com uma privada normal, de louça, mas sem descarga: você usa um chuveirinho para fazer o líquido descer. No cocô, é um balde com serragem. Quando terminar, você pega uma caneca (ou cabaça) disponível e forra com mais serragem, até ficar totalmente coberto para não atrair moscas e etc..

Isso porque, a gente entende lá, é uma estupidez um banheiro que não seja seco. Colocar algo sólido descendo por um líquido (esgoto) até chegar em um lugar líquido (rio), que não vai deixar aquele sólido se decompor (vai ficar boiando e virar o Tietê). Deu pra entender?

Pois lá, seis meses depois de ser carinhosamente encoberto por serragem, seu cocô vira uma farinha-adubo com quase nenhum cheiro, pronta para enriquecer a terra. Já o xixi também passa por um tratamento antes de ser descartado.

Dica final: não vá com pressa

Você precisa de uns dois dias pra se situar. Entender o que é aquilo, de preferência parar de julgar (sem criticar ou se deslumbrar, duas grandes possibilidades).

Além disso, é caro e demorado chegar lá. A não ser que você tenha pique de andar 6 km pela areia da praia, saindo de Itacaré, ou seja amigo de algum morador e descole uma vaga no “Pirauber”, sistema de caronas por contribuição a R$ 30, desembolsará R$ 150 de táxi (cerca de 33 km por estrada bem complicada de terra) até a ecovila. Se vier do aeroporto de Ilhéus (o mais próximo, a umas duas horas de lá), são R$ 250.

O Inkiri oferece transporte coletivo em horários pré-determinados, que precisa ser pago online no site deles com dois dias de antecedência e custa R$ 30 a ida e R$ 50 a volta de Itacaré (embora não esteja escrito lá, não sei por quê). Ou seja: R$ 40 por trecho.

Se pensarmos que a passagem de Itaparica (de onde é mais fácil partir se você vem de Salvador, atravessando o ferry-boat) para Itacaré custa menos de R$ 50 e são quase seis horas de viagem, dá pra ter uma comparação.
(Lembrando que estes valores são de novembro de 2017)

Piracanga é bem mais que tudo isso. Foi o professor mais efetivo e cruel que tive para aprender a difícil missão de (tentar) parar de julgar. Ou fazia isso, ou meus neurônios virariam pipoca.








"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.