Não há interesse mais, não há encantamento, não há esforço para um encontro. Dá trabalho. Exige manutenção. E talvez manter o superficial, o “sair de vez em quando” está bem mais em moda e cômodo, provando o sucesso das páginas anti-romance das redes sociais. Então para o mundo que eu quero descer. Porque eu gosto mesmo é de um romancezinho, mesmo que despretensioso.

Dia desses, entre um copo de cerveja e um cigarro, eu e uma amiga iniciamos um debate sobre relacionamentos. O assunto surgiu quando nos questionávamos porque o carinha que ela conversa há séculos no aplicativo não toma a iniciativa de convidá-la pra sair. E aí iniciou-se um longo questionamento, com teorias diversas cheias de porquês, dúvidas e até levantamentos da história do homem e da mulher. A pergunta que ficou foi: por que os caras hoje tomam menos iniciativa do que antigamente??

Já escrevi aqui um artigo sobre atitude feminina. Eu realmente tenho bastante, mas, sabe, tenho procurado controlar. Ando a fim de ser convidada. De saber que o cara realmente quer sair comigo e não está me levando pra jantar porque eu convidei, pra não ficar chato. Eu quero que ele planeje. Eu quero que ele queira. Simples assim. Mas também não vou ficar roendo as unhas se eu estiver com vontade de bater papo com o cara pelo whatsapp, por exemplo, decidindo se devo ou não chamá-lo. Eu vou chamá-lo.

Dentre as teorias levantadas para a pouca iniciativa masculina está a “grande oferta”, como disse minha amiga, de mulheres que, como eu, não se importam em convidar. Que se estão a fim de transar, não fazem doce. Que se querem assistir a um determinado filme no cinema, chamam o carinha pra ir junto.

Nossa primeira teoria diz que essa “grande oferta” de modernidade (alguns machistas podem dizer “facilidade”) faz com que os caras tenham tantas opções que não se decidam sobre o tal primeiro encontro, ou não queiram continuar saindo com uma só pessoa. Ou saem com você hoje, mas, amanhã já conheceu outra, que por sua vez também vai convidá-lo pra sair, e por aí vai.

A segunda teoria fala de sexo. As mulheres estão mais bem resolvidas com sua sexualidade, sabem quando querem transar e demonstram isso numa boa. Então voltamos ao caso da “grande oferta”. De acordo com a minha amiga, que se tornou especialista em relacionamentos junto comigo depois de umas cervejinhas, os caras não precisam mais fazer tanta “corte” para transar. Não precisa chegar a ser uma ficada mais séria. Muito menos um namoro. Eles terão sexo de qualquer jeito.

Mas ai eu argumentei inflamada: – Então não podemos mais querer transar? Não podemos querer? – Talvez, disse a especialista com o copo de cerveja na mão. Hoje está muito mais fácil pra eles.

Acho confusa essa história toda. Não pode mais convidar, não pode mais transar no segundo encontro, não pode mandar mensagem. Porque está muito fácil para os homens. É isso? Se for, para o mundo que eu quero descer.

Pensando em tudo isso, cheguei à terceira teoria. Namorar ou “sair mais frequentemente” com uma garota virou um conto de terror cujos homens não podem ler senão fazem xixi à noite na cama. Por que eu me deparei com essa conclusão? É só dar uma espiadinha no facebook ou instagram, em páginas que postam frases do tipo: “esse friozinho me deu uma vontade de arrumar uma namorada…aí peguei meu cobertor e passou”, ou “encontrei o amor..no dicionário, página 19”, e também “até ia te chamar pra sair mais tarde mas a pizzaria aqui perto de casa ta com promoção”. Frases que deixam claro o horror a uma aproximação maior.

Não sei qual das teorias é a correta, ou se são todas. O fato é que está bem difícil conhecer as pessoas um pouco mais a fundo. Bem complicado prolongar mais alguns encontros. Não há interesse mais, não há encantamento, não há esforço para um encontro. Dá trabalho. E talvez manter o superficial, o “sair de vez em quando” está bem mais em moda e cômodo, provando o sucesso das páginas anti-romance que eu mencionei. Então para o mundo que eu quero descer. Porque eu gosto mesmo é de um romancezinho, mesmo que despretensioso.