Por falta informações, grande parte da sociedade associa depressão a tristeza, preguiça ou frescura. Acompanhados de todos os estigmas, as pessoas que sofrem com a doença ainda lidam com algo cruel, muitas vezes disfarçado de bem-querer ou de um conselho amigo: a falta de empatia. Depressivos são esmagados com conselhos do tipo: ‘você tem que sair mais!’, ‘tente pensar positivo!’, ‘é só uma fase!’, ‘você não está se ajudando!’, ‘você precisa encontrar Jesus!’. Será que um diabético poderia curar-se, caso simplesmente fingisse que não tem a doença, jogasse todas suas ampolas de insulina fora, frequentasse fielmente uma igreja e gritasse: ‘Eu não sou diabético!’?

Não é fácil lutar contra uma doença que rouba sua vitalidade, transforma o que antes dava prazer em uma coisa insignificante, te deixa indiferente, deteriora sua autoestima, fazendo o pessimismo e o cansaço tomarem conta do seu ser. É como boiar no meio de um oceano gelado em um dia nublado, por mais que queira sair nadando seu corpo não responde, ele é levado pela correnteza e você observa a sua vida passar diante dos seus olhos como um mero espectador, tentando suportar a água gelada que paralisa os sentidos e as suas ações. Não podemos fugir quando o nosso corpo é a nossa prisão, o nosso verdadeiro algoz.

Algumas vezes iremos nos mover, nadaremos contra a correnteza e teremos dias de sol mas não se espantem caso depois disso tudo nos sentirmos cansados, deprimidos e voltarmos a boiar no meio do oceano gelado contemplando novamente aqueles dias nublados ou se nos debatermos assustados sem conseguir escapar dali. Por favor, não nos gritem de dentro dos seus navios, não atirem boias ao mar achando que alcançaremos, do conforto de seus converses não entenderão a força das águas turbulentas a qual enfrentamos.

Existirão dias que acordaremos no meio do deserto do Saara, escutaremos apenas o vento e os grãos de areia tocarem nossos corpos, olharemos para toda aquela imensidão e não conseguiremos alcançar o oásis, onde nossos amigos e familiares acenam na tentativa de serem enxergados por nós, contudo, já experimentaram enxergar quando o vento sopra areia nos seus olhos? Nos sentaremos no meio das areias subsaarianas e seremos consumidos pela tempestade de areia que avança em nossa direção. A violenta tempestade conseguirá nos alcançar e não esboçaremos nenhuma reação.

A depressão é uma patologia, ela causa alterações químicas no cérebro. Conselhos não vão ajudar quem sofre com a mesma, da mesma forma que não ajudaria um diabético. A forma correta de ajudar é incentivando a busca por profissionais de saúde, mas não basta só incentivar, tem que compreender e respeitar. Se o tratamento médico já vem sendo feito, tenha paciência e entenda que ele não vai ser como um passe de mágica, embora forneça uma melhora drástica, pode ser que alguns sintomas da doença não cessem por completo ou volta e meia se manifestem. Não piore a vida das pessoas que enfrentam a depressão, não acreditem que um livro de autoajuda ou um conselho vão curar uma doença, dessa forma você só acentuará os sintomas que já nos assombram. Seja empático, empatia é o que mais precisamos.