A única coisa que viemos fazer neste planeta tão esculhambado é aprender formas de nos relacionarmos com amor. E amor é um só, acredito eu.

Tenho cá pra mim que não existe amor de mãe e amor de mulher. O que existem são diferentes formas de expressão do amor. A maternidade/paternidade e o que poderíamos chamar de relacionamento romântico – o que une o amor à energia vital do sexo -, são suas mais intensas expressões (e, não a toa, a força que traz continuidade aos seres).

Acontece, porém, que algumas vezes a pessoa que te ensinou a amar pode ser a que menos te deu amor.

Você percebe isso quando, mesmo sem receber nada em troca, vê que estranhamente nada mudou. Sua admiração, seu carinho, sua torcida, seu olhar crítico: tudo permanece igual, mesmo que não exista qualquer possibilidade de compartilhar destes momentos.

Porque o afeto é seu. Não era uma fonte externa. Vinha de dentro do seu peito, então não tinha como ir para lugar algum.

Você sabe que é amor não-correspondido (e não afeto, interesse, atração) quando consegue se perguntar se estar com você seria realmente o melhor para aquela pessoa. É o que ela deseja pra si? Ou seria uma forma de você aplacar suas necessidades e encaixar aquele ser dentro de suas expectativas?

Passa a entender que sua única função nessa história, além de dar amor, é ser você em sua capacidade plena.

Confia que alguém que te despertou para um sentimento tão grandioso pode também ter a capacidade de decidir o que é melhor para si próprio. E que dificilmente uma pessoa que não ame sua essência poderia ser uma boa companheira.

Se a gente vai tentar descobrir como pode gostar verdadeiramente de alguém e isso não ser mútuo, endoida. Pode cair na armadilha de procurar defeitos infinitos em si mesmo. Mas quando atinge um nível de consciência acima deste, ao invés de se questionar por que outra pessoa não gosta de você, começa a se perguntar se você é o que gostaria de ser – à parte de todos os conceitos que te deram sobre quem deveria ser.

Ou seja: não vale querer ser a mocinha da capa da revista. Precisa saber quem você mesma é e, depois, como pode trazer à tona o que realmente tem de potencial dentro de você.

Aí entram os processos de autoconhecimento. E aí entra uma necessidade de ter coragem para se ver.

Porque quando a gente está existindo de acordo com nossa essência, fazendo o possível por si, sem falsa autoestima, sem falso empoderamento, sem descambar para o outro lado, que é ser cruel consigo, quando você se olha verdadeiramente e enxerga o que é preciso para se amar e se perdoar, não importa a rejeição do outro.

Se você teve a chance de se mostrar, se deixar conhecer, e mesmo assim não fluiu, agradeça por ter conhecido alguém que conseguiu fazer você olhar para si com amor.

Porque esta é outra das características do amor verdadeiro: ele te desperta para o sentimento, não é algo só dirigido a uma única pessoa.

Amar é desenvolver outro olhar para si e para o mundo.

Sei que é difícil (ah, como eu sei!), mas acredite que o dia em que você despertar seu amor-próprio a partir do que sentiu por alguém que te rejeitou, terá se realizado.

Importante lembrar que a descoberta do amor incondicional não significa aceitar tudo o que vem do outro – a começar por opiniões sobre quem você é.

Lembre-se que não é porque alguém te despertou para um sentimento, que ele está imune a projetar em você suas próprias dores.

Muitas vezes, inclusive, é de não aceitarmos alimentar a sombra alheia que vem a rejeição.

Se você reconhece a sombra do outro e ainda assim o vê de forma tão completa que entende que ela só é uma parte daquele ser, então você o ama.

Por isso, não acredito que amor acabe. Acaba a força para investir em um relacionamento, acaba o desejo. Às vezes, sequer é fisicamente seguro estar perto de quem a gente ama. E então a solução é enviar amor à distância, toda vez que um pensamento ruim vier. Porque quem te fere precisa de mais amor ainda, para que cure suas próprias feridas e pare de ferir.

Se mesmo você se empenhando a outra pessoa não conseguiu receber o amor que você tinha para compartilhar; se ela não quis te enxergar; se enxergou e não gostou do que viu; se você não conseguiu uma forma de fazer isso; se havia outra pessoa preenchendo aquele coração: talvez fosse pra ser assim. Talvez essa não seja a hora. Talvez ela nunca chegue, porque a experiência era somente aquela.

Mais do que buscar respostas que podem jamais chegar, mergulhe intensamente no sentimento, porque a partir de agora você abriu um novo portal dentro da sua existência.

A figura que ilustra este post é a carta “Os Amantes “, do Osho Zen Tarot.
resilienciamag.com - Nem sempre é recebendo amor que despertamos o amor em nós
De lá, tiro o seguinte trecho: “Buda definiu a compaixão como sendo “amor mais meditação”. Quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando o seu amor não é apenas uma necessidade, quando o seu amor é um compartilhar, quando seu amor não é de um pedinte, mas de um imperador, quando o seu amor não está pedindo nada em troca, mas está pronto para dar apenas — dar só pela total alegria de dar –, então, acrescente a meditação a ele, e a pura fragrância é exalada. Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado.”








"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.