Quando as pessoas comentam poeticamente que “perdi o chão” “meu mundo desabou” ou coisas desse tipo, eu chego à concluir que, mesmo que pareça exagero, quando algo de ruim nos afeta a alma a sensação é exatamente essa.

Podemos até estar quietos em um canto que ainda veremos aquele abismo abaixo de nossos pés e a terrível sensação de que vamos cair e nos perder pra sempre naquela escuridão.

Alguns gritam, se esperneiam, se debatem para não cair ou muitos ainda até se encolhem berrando lá no fundinho do abismo enquanto seu eco continua repetindo tempo após tempo…

Eu, quando recebo uma notícia que não me agrada, pareço sair de mim um tempo, entrar em um tipo de transe e perceber minha cabeça acelerando enquanto penso: “e agora, o que vou fazer?”

Eu sei como é sentir seu mundo se quebrar em um monte de pedacinhos como se ele jamais, em tempo algum, pudesse se recuperar. Eu sei como é se sentir sozinho, desesperado, abandonado e muitas vezes arrependido de ter agido de alguma forma ou de não ter agido. Eu sei como é. Sei como é passar noites em claro esperando uma solução e ter aquela vontade louca de voltar no tempo, de corrigir os erros ou de nunca tê-los cometido.

O coração fica miúdo, silencioso, tristonho…

Eu sei como é.
E sei também e posso muito bem dizer isso a você agora, que sei que todos os cacos uma hora serão recolhidos, por outra pessoa ou por você mesmo que é forte ao ponto de juntar os próprios cacos enquanto sangra sua dor.

Vem o desespero, eu sei.
Mas posso te dizer, com toda a certeza, que tudo isso que você está sentindo agora uma hora irá passar, sairá de você, te deixará. Sim, a dor nos deixa quando queremos que ela vá embora. Nosso mundo volta a se recompôr quando tiramos a dor do nosso peito e escolhemos nos recuperar.

Como? Tá me perguntando isso agora, né?

Quando seu mundo estiver todo picado, estraçalhado pela dor que não te deixa, sinta-a. Sim, sinta essa dor com toda a intensidade que ela te pedir, chore, se debata, grite aos quatro ventos que está sofrendo e depois, meu querido ou minha querida, mande-a embora.

Pega aquela cola que chamamos de amigos, livros, trabalho, cachorro, crianças, vida (dê o nome que quiser) e cole seu mundo! Não ficará perfeito, eu sei. Cicatrizes são atraentes… rs.

Chegue ao fundo do abismo se quiser, mas não fique dentro do abismo. Levanta-te! Erga-se! Reconstrua seu mundo, criatura, porque ele é seu e é tudo que tem, então, porque não cuidar dele?

Não despedace seu mundo por causa do mundo dos outros.








Escritora, blogueira, amante da natureza, animais, boa música, pessoas e boas conversas. Foi morar no interior para vasculhar o seu próprio interior. Gosta de artes, da beleza que há em tudo e de palavras, assim como da forma que são usadas. Escreve por vocação, por amor e por prazer. Publicou de forma independente dois livros: “Do quê é feito o amor?” contos e crônicas e o mais espiritualizado “O Eterno que Há” descrevendo o quão próximos estão a dor e o amor. Atualmente possui um sebo e livraria na cidade onde escolheu viver por não aguentar ficar longe dos livros, assim como é colunista de assuntos comportamentais em prestigiados sites por não controlar sua paixão por escrever e por querer, de alguma forma, estar mais perto das pessoas e de seus dilemas pessoais. Em 2017 lançará seu terceiro livro “Apaixonada aos 40” que promete sacudir a vida das mulheres.