Ahh… essa vida é tão cheia de coisas inevitáveis! Você sabe, aquelas coisas das quais não se pode escapar. Tem as boas. O amor, por exemplo, do qual até o mais cretino dos vilões é merecedor. Tem a paçoquinha, as festas de aniversário, feriado prolongado, os reencontros de toda sorte – do dinheiro esquecido no bolso da calça ao velho amigo que reaparece do nada. E tem as más. As incômodas e obrigatórias coisas ruins de toda vida.

Gripe, caco de vidro, barata, cochilo em hora imprópria, fofoca, chuveiro queimado, falta d’água, blecaute, assalto, rejeição, laranja azeda, comida fria, saudade, choque elétrico, pernilongo, decepção e todo tipo de injustiça são só as primeiras.

Contra uma e outra a gente se rebela, reage, enfrenta. Compulsoriamente, a gente combate o que nos incomoda, agride, violenta. A gente briga, discute, toma remédio, vai ao médico, ao psiquiatra, à polícia, procura os amigos. A gente faz qualquer coisa. Faz por defesa, indignação, instinto de sobrevivência, vergonha na cara. Mas faz. Agora, tem coisas inevitáveis que é melhor esperar passar.

Acredite. Agora mesmo há de haver um pateta com sangue nos olhos e veneno no coração babando inveja do que você tem, do que você é. Contra esses, a melhor defesa é sair da frente, passar de lado e seguir adiante.

Pode esperar. Logo ali há mais uma besta esperando para despejar em você todo o lixo que há dentro dela. E a vida é muito curta para perder tempo batendo de frente com um bicho raivoso e inútil.

Fazer o quê? Decerto é um javali rancoroso, um mal agradecido, um coitado roedor de osso que criou sua própria ilusão de controle. Inventou de julgar a Deus e ao mundo para disfarçar sua própria cretinice. Se puder, ele vai machucar você para se sentir melhor. Então desvie.

Saia da frente do touro. Deixe-o correr atrás do próprio rabo até espetar a veia femoral e esvair-se em sangue e ódio.

É triste, mas tem gente nesse mundo que não vale as calças que veste. “Não vale aquilo que o gato enterra”, dizia a minha avozinha. Tem gente que não vale um só segundo de argumentação. Deixe-as passar e desaparecer.

Relaxe. O que há de ser consertado será. Tudo tem jeito, tem volta. Exceto o que não é para ser. Incontornáveis mesmo só a morte, a lei da gravidade e olhe lá! Porque eu ainda faço fé que um dia seremos livres para sair voando por aí. E quer saber? A morte de pessoas queridas não é desculpa para esquecê-las ou nunca mais vê-las por perto. Eu mesmo vivo encontrando gente que já partiu dessa para, faz bem acreditar, melhor.

Se há coisas inevitáveis e obrigatórias nesse mundo, deixemos o melhor de nós mesmos para as boas. O amor, as paçoquinhas, os reencontros e até os feriados prolongados. As outras, a vida que leve embora tal como as trouxe. Do nada, para nada.








http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.