Por Amanda Ferr

Eu posso ser chamada de louca, e isso não me incomoda nem um pouco já que loucura para vocês quer dizer ser você mesmo, ter coragem, sim porque é preciso coragem para bater no peito e se assumir como é.

Sim, eu sou louca, porque falo o que penso e como qualquer ser humano normal eu penso um monte de sacanagens e coisas detestáveis. Sou louca porque sou lúcida o suficiente para admitir que mudo de ideia, que me contradigo, que me perco, que quero e não quero, que gosto e desgosto, que não sei as respostas, que insisto nos mesmos erros, que tenho preguiça, e vícios inconfessáveis.

Sou louca porque sou humana em meio a um exército de robôs programados para mentir, enganar, fazer joguinhos e iludir, tudo na tentativa desesperada de sair ileso. Sou louca justamente por isso, porque não quero sair ilesa e prefiro dar a cara a tapa, me sujar, me deixar levar, borrar, derramar, efervescer, transbordar para só no fim me deixar lavar.

Sou louca sim, porque sou toda sentimentos, sejam eles bons ou ruins, porque sou capaz de amar profundamente e odiar na mesma intensidade, porque sou capaz de gestos nobres e de golpes baixos, porque sei ser cínica com quem também é, porque sou pirracenta com quem pisa no meu calo e vingativa com os que me causam dor. Mas sou amiga até debaixo d´agua daqueles que sabem o significado da palavra lealdade, sou amante dos que me amam sem rótulos e sou parceira dos que jogam o jogo do bem.

Sou louca porque respeito meu corpo e isso implica em respeitar meus desejos, instintos e impulsos mais imundos. Sou louca porque não tenho hora, porque ajo por impulso, porque beijo quando sinto fome de outros lábios sem me importar com a hora ou o lugar. E sim, porque tenho fome de comida, de água, de abraços e de corpos colados ao meu.

Sou louca porque faço declarações de amor, porque parto pra briga, porque me apego a animais de rua e menores abandonados e converso com as plantas. Sou louca porque mostro minhas carnes, meus dentes e minhas quenturas quando essas sentem-se afobadas demais no cárcere do meu corpo.

Sou louca porque sou mais alma e temperatura do que bons modos. Sou louca porque quebro as regras que vocês obedecem contrariados, porque faço às claras o que vocês fazem mortos de medo por debaixo dos panos, porque questiono o que ninguém tem a audácia de discutir, porque rio quando não devo e porque prefiro comer com as mãos do que com meia dúzia de talheres de prata.

Sou louca porque tenho maus pensamentos e não conheço limites, porque trabalho enquanto deveria dormir e me divirto enquanto deveria trabalhar. Sou louca porque sou responsável o suficiente para ser livre, e liberdade não é que para quem quer, mas para quem pode.