…porque sem o velho sair, o novo não entra.

Acredito que todos já tenham tido a experiência de limpar um armário, uma gaveta ou, no caso das mulheres, a própria bolsa. A sensação de conseguir se livrar do que não se usa mais, do que se guarda sem necessidade ou do que se carrega em vão é muito prazerosa e precisa ser vivenciada. Apegar-se demais às coisas, guardar roupas, sapatos ou qualquer tipo de objeto com a afirmação de que “um dia posso querer, ou precisar” está longe de ser saudável.

Assim como nascemos desprovidos de quase tudo, é preciso que se vá, ao longo da vida, desprendendo-se do que não é necessário. Algumas civilizações orientais pregam o desapego gradual de todos os bens materiais, uma prática que se torna cada vez mais difícil em sociedades como a nossa. Todavia, criar o hábito de fazer uma ou duas “faxinas” anuais na casa pode ser útil para sua saúde mental, pois, quando se abre espaço nos armários, nas gavetas e nas bolsas, pode-se experimentar viver com leveza, libertação e abre-se caminho para que novas coisas entrem. Funciona assim também com a nossa mente. Manter guardada na memória o que não nos serve mais, impede que possamos armazenar novas informações, novas experiências e novas lembranças.

Concluindo, é preciso abrir mão do que é velho, para que o novo possa entrar. Uma casa ou uma mente limpa, leve e organizada pode trazer inúmeros benefícios. Se você tem dificuldade de se desapegar das coisas, fique alerta, pois esse é um sinal de dificuldade também de se libertar das lembranças desnecessárias, de modo que, ao começar a se livrar das coisas, você estará também limpando a sua mente. Podemos exercitar o desapego se propondo a adquirir alguns hábitos e fazer algumas reflexões:

-Duas vezes ao ano, pelo menos, separe as roupas e os sapatos que realmente usa das que você não usa mais. Se você não usou algo na estação passada, provavelmente não usará nesta, então retire, doe a quem precisa e limpe tudo para que a energia flua pelas roupas e sapatos que ficam. Deixe o ar entrar, abra janelas, ventile os ambientes.

-Toda vez que sentir necessidade de comprar algo, questione-se antes se é realmente preciso e se for, proponha-se a retirar algo velho do armário para que a nova aquisição possa entrar. Comprou uma camiseta nova, retire uma velha e doe. Faça assim com tudo, assim você evita o acúmulo.

-Já tive pacientes que chegavam ao cúmulo de comprar tanta coisa que, após um tempo, se esqueciam delas perdidas em gavetas ou armários, encontrando-as meses depois, sem nem sequer terem sido usadas. Essa é uma atitude perdulária e nada saudável, além do mais, é dinheiro jogado fora. -Você não precisa de cinquenta pares de sapatos, nem de vinte e cinco batons, nem de trinta bolsas – mesmo que você possa comprar tudo isso, é interessante que pratique viver com menos – primeiro porque amanhã você pode precisar, e segundo porque é mais saudável e mais feliz quem vive e consegue se contentar com pouco.

-Certamente você já sentiu vontade de comprar algo novo para se sentir mais feliz, para se livrar de uma frustração, etc. Essa prática é comum, mas muito perigosa, pois pode desencadear um quadro compulsivo. Já vi pessoas tão viciadas em comprar que não tinham mais nem onde colocar as coisas e que, já com um padrão de comportamento compulsivo, partiram para comprar inúteis; Vocês acham saudável ter mais de noventa tuppewares (aquelas vasilhas)?

Acreditem, podemos viver com menos da metade do que temos guardados em nossas casas. Proponha-se a uma “faxina”. Livre-se do que não usa mais, limpe os armários da casa toda, as gavetas, as bolsas. Deixe o ar limpo e novo entrar, carregue menos peso, liberte-se da escravidão imposta pela moda, pelo capitalismo. Abra mão do seu passado, preso e mofando dentro da sua casa e da sua mente. Um dia nosso corpo físico vai caber dentro de uma caixa e todas as nossas coisas tomarão um rumo incerto. Mantenha e carregue apenas o necessário – na casa, na bolsa e na alma.








Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...