Muitos de nós temos uma irracional necessidade de carregar o mundo nos ombros, sentindo-nos responsáveis por tudo e por todos, à maneira de mártires que desabam dentro de si mesmos, tamanha é a carga de bagagem emocional atraída sem razão para dentro de nossas vidas. Caminhamos, assim, a passos lentos e morosos, ruminando pensamentos negativos que só retardam a concretização de nossos sonhos, de nossa felicidade. É urgente nos libertarmos do que não é nosso.

Liberte-se das culpas desnecessárias, que de nada servem e apenas emperram a manutenção de seu equilíbrio emocional. Temos grande parcela de responsabilidade sobre o que nos acontece, porém, muitas coisas independem de nossa participação, para que ocorram. Não temos o poder de mudar o curso de certos acontecimentos, tampouco de mudar o pensamento das outras pessoas. Cada um que assuma a parte que lhe cabe no desenrolar da vida, sem que ninguém se sobrecarregue para que outrem possa se safar da colheita que é só dele, de ninguém mais.

Liberte-se das mágoas e ressentimentos em relação aos acontecimentos, às pessoas, ao que já foi e deve ficar no passado. Desista de entristecer os seus dias com as lembranças doloridas de becos escuros que lhe impedem de enxergar a luminosidade à sua volta, que lhe retiram a capacidade de esperar ativamente por dias melhores – e eles virão, sim. Guardar tudo isso dentro de si faz com que você se torne escravo do pior que já aconteceu e de gente que não merece sua preocupação por um segundo sequer.

Liberte-se da mendicância afetiva, do implorar por um olhar, por um “bom dia”, das mãos que se estendem ao nada, do vazio em que teima mergulhar seus sentimentos mais nobres. Temos que nos valorizar, percebendo que temos muito a oferecer a alguém que retorne sinceridade e dedicação. Fuja das amarras de uma relação que se sustenta por nada mais do que amor unilateral. Não ame pelos dois, mas tenha a certeza do que merece receber em troca de tudo aquilo que possui dentro de si.

Liberte-se dos temores, dos medos paralisantes, que mal se sustentam sobre preconceitos e convenções sociais que não condizem com o pulsar apaixonante do sangue que corre em suas veias. Entregue-se de corpo e alma aos seus sonhos que podem – e devem – ser realizados enquanto existe vida transbordando por entre seus poros. Carregue e recarregue as esperanças a cada novo dia, destemidamente, para que não estenda intranquilidade e arrependimentos pelo resto de seus dias. Não tema aquilo que for capaz de tornar sua jornada única e especial, pois você merece nada menos do que isso.

Liberte-se de tudo o que não mais lhe pertence: das chaves do lar em ruínas, do tique-taque agonizante do relógio na mesa do escritório, do sofá emudecido em frente à novela das oito, da cama em que corpos não mais se perdem um no outro. Deixe para trás esse peso nos ombros que um cotidiano fingido e adequado às expectativas alheias torna cada vez mais difícil de se suportar. Diga não a tudo o que lhe traz dor e sofrimento. Deixe o sim entrar na sua vida, de forma a lhe tornar capaz de viver o que é e de buscar o que realmente deseja.

Não conseguiremos viver uma vida isenta de adversidades, de mágoas, de decepções, tampouco estaremos salvos de encontrar pessoas maldosas, porém, quando estamos certos e seguros quanto às nossas potencialidades, quanto ao que podemos dar e merecemos obter, conseguiremos enfrentar o que vier com dignidade. Porque, dessa forma, estaremos vivendo o que somos. Porque, assim, jamais perderemos as esperanças. Porque, então, estaremos rodeados de amor verdadeiro, o qual nos alimentará, renovando-nos a cada novo amanhecer.








Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.