Um dos maiores erros que cometemos é acreditar que no espelho, é possível enxergar no outro o nosso reflexo.

Protecionismo, expectativas, compaixão, vários podem ser os sentimentos que nos fazem querer que aqueles que amamos ajam como gostaríamos que agissem. Porém, assim como não existe nenhuma pessoa igual a outra, a forma de lidarmos com as distintas situações impostas pela vida, também acaba se diferindo.

Em alguns casos, nem mesmo consideração, podemos esperar. Resta-nos amar, até mesmo incondicionalmente, sem ansiar nada em troca. Ou, ainda, deixar que sigam seus caminhos, respondendo por suas próprias escolhas, aprendendo com os erros e os tombos, assim como um dia fizemos.

Aceitar, não é concordar com aquilo que o outro faz. Não é se isentar de opinião, mas ser realista, ter ciência que nem sempre a vida é fácil ou justa. É saber que não podemos emprestar nossos olhos para que o outro veja, nossos valores para que julgue, nossos corações para que sinta, nossa alma para que aprenda, nossa essência para que priorize aquilo que clama nossos princípios.

Esperar cansa e o cansaço desgasta, judia, corrói. Só depositamos expectativas naqueles que amamos. E é por isso que quando os vimos perdidos em suas escolhas e no livre arbítrio que lhes é de direito, involuntariamente, tendemos a agir como se bússolas fossemos, apontando a direção que julgamos ser correta. Nesta angústia por guiar, esquecemos que por mais que calcemos o mesmo número, o sapato que como uma luva cai em um, aperta insuportavelmente o calo do outro.

Que sejamos lanternas, para quem está perdido no escuro. Que sejamos abrigo, para quem perdeu toda e qualquer proteção. Não empurre aquele recua constantemente. A estrada é dele, não sua. A jornada, da mesma forma. Ampare quando possível, mas não espere que os mesmos e velhos erros deixem de ser cometidos.

Por sermos diferentes, temos igualmente limites que não se equiparam. Não espere respostas daquele que ainda não encontrou as explicações. Apenas cresça, evolua, sirva de exemplo. Pois quem sabe, o outro espelhe-se em você, no tempo em que esteja pronto. Cada um é livre para fazer suas próprias escolhas, porém, será refém das consequências que delas provém.

Cecília Sfalsin explica com propriedade o quão dolorido é depositar expectativas nossas, projetando-as nos outros: “Sou a maior culpada das expectativas que criei e das decepções que acarretei através delas. Sou a maior culpada as vezes das minhas lágrimas por me doar demais achando que também poderia receber demais, sou a maior culpada de algumas anormalidades do meu coração e dos passos meio estranhos que caminhei. Sou a maior culpada de tanta coisa em mim, que resolvi me perdoar”.

E, perdoando-nos, aprendemos que devemos esperar e sofrer menos. Quem sabe assim, mais fortalecidos, percebamos que a dor do outro não é nossa, mas é possível que mesmo prevendo erros, estejamos prontos para confortar, mais uma vez, quando murros forem dados em pontas de facas, as mesmas que um dia já nos feriram, como cortes profundos de afiadas navalhas.








Jornalista, balzaquiana, apaixonada pela escrita e por histórias. Alguém que acredita que escrever é verbalizar o que alma sente e que toda personagem é digna de ter sua experiência relatada e compartilhada. Uma alma que procura sua eterna construção. Uma mulher em constante formação. Uma sonhadora nata. Uma escritora que busca transcrever o que fica nas entrelinhas e que vibra quando consegue lançar no papel muito mais que ideias, mas sim, essências e verdades. Um DNA composto por papel e tinta.