Vida que chega toda manhã com um convite pessoal e intransferível. Mais um dia, todo dia, que alegria! Que sejamos inteiros até nas metades que nos completam. Que sejamos corpo, peito e coração, um só. Sem nó. Nem dó. Que a gente colecione sorrisos no nosso quadro de amigos, que sejamos mais presença, menos sentença. Que tenhamos mais tempo para a alegria da vida. Que sejamos a alma viva de uma poesia bonita.

Que sejamos gratos pela comida na mesa, mas que também sejamos inquietos com as mesas vazias. Que possamos admirar a beleza da natureza, mas que nunca percamos o desgosto de vê-la morrendo. Que façamos algo por tudo que nos embrulha o estômago, um pouquinho que seja, um pedacinho, uma pontinha, o que estiver ao nosso alcance.

Que a indiferença não faça pouso no aeroporto do nosso destino, pois qualquer movimento faz uma diferença danada para tudo que está emperrado. Todo dia é uma nova chance de fazer mais bonito. Mexa-se no círculo, abra as arestas do pouco para enxergar o todo. É no inteiro que a vida se dá.

Que a gratidão seja lema, benção e o tema de casa. Que a varanda seja de flores, aromas e amores sorrindo – com os pés para cima em uma tarde de domingo. Que os beijos sejam doces e que a memória colabore para que possamos fazer as pazes com o passado. Que o passado fique onde está e o futuro seja apenas até a próxima hora.

O já é o que acontece agora. Amanhã, ah, amanhã nem sei, talvez nem venha. E se resolver não chegar? O que fiz do momento presente? Reclamei do que não ganhei ou agradeci o que construí? Apertei meu amigo no abraço que dei ou chorei a falta do laço com aquele nem tão importante assim? O que estou fazendo do meu agora?

Ah, por favor, e que tenhamos receio, pois ele oferece respeito. Mas que tenhamos cautela com o medo, pois ele também paralisa por inteiro. Que a gente vá em frente, mas que não atropele ninguém. Há espaço para todo mundo, há galho para todo sabiá cantar. Há verso para todo poeta rimar.

Há!

O que a gente leva da vida é a vida que a gente leva, disse Tom Jobim. O que estamos carregando na bagagem? Dá para esvaziar? Dá para amenizar a culpa que se carrega nas costas? A viagem é dura para quem não divide os pesos. A coluna não aguenta o exagero. Nem o coração bate direito se viver em desespero.

Vida que chega toda manhã como o sabiá na ponta da árvore, que canta doce com o parceiro do lado. Esperto é o tal do passarinho, que usa o bico como ferramenta para construir seu ninho, que muda de cor entre um assovio e outro, entre um cantarolar e um voo no espaço em busca de capim e barro para proteger a casa do orvalho.

Vida que chega toda manhã na esperança de que digamos sim. E que nossos olhos se abram para a dimensão do universo, e que nossos pés não percam a força diante do caminho adverso. Que sejamos fortes feito o vento e tão aprendizes quanto o passarinho.

Para frente, comandante! É no horizonte que nosso voo se cruza.

É nesse mar de amor que nossa vida se mistura.








Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.