É, não tem muito jeito não. Como diria Sartre, viver é se equilibrar entre escolhas e consequências. E como se sabe, escolher não é nenhuma micareta ou manhã ensolarada de domingo no parque. Escolher é uma das coisas mais complicadas e complexas da vida. É também uma das coisas mais necessárias.

E mesmo que você viva naquele toada “deixa rolar” ao estilo Zeca Pagodinho “Deixa a vida me levar” , você já está escolhendo. Como diria Max Weber, o omisso é aquele que optou pelo mais forte. Até em casos de chantagem emocional, você pode optar entre ceder e lutar. Quando a opressão é de ordem física ou financeira , a dose de liberdade diminui drasticamente, mas mesmo assim podemos fazer pequenas escolhas como reagir, obedecer, fingir fazer o jogo do outro para tentar fugir ou fazer realmente o jogo. Mas neste post, pretendo focar em situações que envolvam uma boa dose de liberdade. Então, deixemos sequestros e assaltos à mão armada para outra ocasião literária.

Sim, escolher não é fácil. Mas se a gente parar para pensar , nada importante é realmente fácil em nossa vida. Quando escolhemos entre A e B, precisamos pesar prós e contras, pois independente do grande escolhido, perderemos alguma coisa. Não existe escolha totalmente desprovida de prejuízos. Para ter mais tempo livre, você terá que aprender a viver com menos dinheiro. Para ter mais dinheiro, você terá que aprender a viver com menos tempo para o descanso. E é aí que entra a subjetividade de cada um para detectar suas prioridades. O que é mais importante para mim? Ter mais dinheiro ou mais tempo? Qual tipo de prejuízo será mais devastador para mim?

Algumas pessoas optam por serem elas mesmas, terem uma vida mais espontânea, mais autêntica. Porém, elas pagarão um preço alto por isso. Elas ganharão inimigos que invejarão o seu senso de liberdade. Por outro lado, ela fará amigos de verdade. Algumas pessoas preferem ter um corpo perfeito e não comerem nada daquilo que elas gostam. Outras preferem abrir mão do shortinho ultra sexy e da blusinha que deixa a barriga de fora e comer o que gosta. Algumas pessoas investem mais tempo, energia e dinheiro em viagens. Outras em estudos. Existem aqueles que optam por construir um patrimônio maior.

Algumas pessoas optam por perder um pouco da liberdade e da privacidade para se comprometerem em relacionamentos amorosos. Outras preferem namorar a vida inteira. Existem ainda os que nem namorar querem. Existem pessoas que só namoram quando estão apaixonadas. Outras fazem completamente o contrário: fogem de tudo e de todos que faz o coração balançar e se agitar.

Uns tem o carro do ano e comem salsicha para economizar. Outros se alimentam bem e andam de ônibus. Enfim, estamos sempre abrindo mão de algo para obter outra coisa. Se não abrimos mão do nosso egoísmo, por exemplo, não podemos esperar que as pessoas nos tratem como prioridade da vida delas. Se falamos tudo o que vem à mente, sem nenhum tipo de filtro e respeito, devemos estar preparados para ouvir as verdades do outro também. Se esbanjamos dinheiro sem o menor cuidado, temos que nos preparar para as dívidas e constrangimentos. Se a gente abusa do álcool, a gente precisa estar pronto para uma boa vomitada. Os exemplos são múltiplos e eu poderia ficar aqui por 12 anos citando-os.

Enfim, ajoelhou, tem que rezar. Escolheu? Tem que assumir as consequências da escolha feita, sendo boas ou más. Não dá para ficar esperando por um golpe de sorte do acaso que venha limpar toda a sujeira que a gente fez. Que venha juntar todos os cacos estilhaçados dos corações que a gente quebrou enquanto saiu por aí fazendo escolhas impensadas. Se agimos com inconsequência e irresponsabilidade, devemos nos preparar emocionalmente para um certo caos dramático em nossa vida. Coisas sairão do lugar num estilo meio poltergeist.

Agora, se a gente agiu com maldade mesmo, com a intenção de ferir, é bom se preparar para esbarrar com pessoas bem semelhantes a nós, com a mesma disposição para causar estragos homéricos.

Sim, não tem muito jeito não. Não tem como escapar das consequências. Pode demorar um pouco, levar um tempo, mas elas chegam. Mas não desanimemos! Pois as consequências boas também aparecem! As pizzas que deixamos de comer se reverterão em perda de peso. As noites de estudo, em formação intelectual. O trabalho dedicado , um dia dará frutos. A nossa sinceridade saudável atrairá junto com os inimigos , amigos para a vida inteira. Amigos ao estilo “Tamo juntos e Vamos nessa!”








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.