Reviro na cama buscando pela melhor posição para os cinco minutinhos que me restam antes de ter de levantar com o despertador bagunçando meus pensamentos. Quatro da manhã. Rolo de um lado pro outro e suspiro profundamente porque eu sei que não vai dar, o relógio parece estar mais rápido e não vou ter tempo suficiente pra descansar um pouco mais, mas no fundo isso não faz diferença. Já são seis e meia e eu nem preguei o olho. Eu não conseguiria voltar a dormir nem que eu me esforçasse o bastante pra isso, nem se ainda restasse o dia inteiro e não houvesse nenhum compromisso demarcável. Ansiedade batendo na porta. Ainda tá escuro lá fora. Tá vazio demais e eu só consigo sentir essa angústia consumir o meu corpo, meu sono e a minha vontade de sair daqui, e quando eu digo “aqui” não é da cama que eu to falando.

Já são sete. Hora de passar um café bem forte e escolher uma xícara engraçadinha, mas que não lembre você. Dá pra notar que o céu ficou mais nublado desde que eu te perdi, mas foi só isso que mudou, o resto continua igual. A casa ainda tem muito de você, sua xícara do Darth Vader continua na mesa, sua cerveja na geladeira com telefone do seu restaurante chinês preferido colado. Ainda tem sua pasta dental com gosto ruim na pia e o seu perfume ainda está impregnado meu travesseiro. Já tá na hora de lavar essa roupa de cama na décima segunda tentativa de não sentir nem um pouco do seu cheiro. O horário já não importa mais.

Eu também não saí mais do lugar, estacionei meu mundo na esquina e você mudou de lado. Fiquei na esperança de você perceber que deixou pra trás o amor da sua vida e voltar pra me buscar; É daqui que eu to falando. Eu sei que já fazem meses e que você já tá longe demais pra olhar pra cá, eu sei que já passou da hora e que você nunca mais vai vir. Eu sei que acabou. Juro que sei, mas eu não consigo te deixar ir. Lavo a roupa, escondo seus pertences, evito pensar em você… mas acontece que você não tá só nos objetos que espalhou aqui em casa, você tá na minha cabeça. Como fugir de mim mesma nessas horas?

Mas sabendo que acabou, eu posso ir para a janela e dar uma olhada nesse belíssimo horizonte que está ali para ser admirado e passa despercebido pelas nossas maiores preocupações. Eu posso olhar pra fora e sentir a mesma esperança que eu sentia quando você estava aqui dentro.

Não consigo te deixar ir hoje, mas eu sei que amanhã as coisas podem mudar de figura, fazer mais sentido ou coisa assim.

Eu sei que te deixando ir eu vou deixar o sol invadir a minha alma e sabe deus como, vamos ser felizes sem a companhia do outro. Eu cá e você lá. Mesmo que a distância geográfica não seja enorme, já basta uma distância emocional pra gente ficar bem. Que você se livre de mim e eu de você. E que a gente seja bem feliz. Bem feliz mesmo. Eu vou acordar com o peito leve e você vai poder dormir mais como sempre adorou. E eu juro que eu vou te deixar ir de vez.

Não sei se agora eu dou conta, mas posso dizer que uma parte de você já foi e nem tô falando das caixas que eu deixei na sua portaria.

Tô falando da sensação de alívio que restou pra nós dois, apesar de toda a saudade. Acho que é a saudade que pesa quando eu penso em não te deixar ir. Quando eu penso no seu cheiro bom. No seu jeito engraçado de pedir as coisas… mas se tem algo que eu te peço, é que vá sem olhar pra trás. Aí, quem sabe, eu te deixo ir totalmente e me preparo para a próxima?

Esse texto foi feito junto com a Gabriela Freitas do blog Nova Perspectiva, pro qual eu também escrevo!








A Ju escreve desde sempre e resolveu publicar recentemente. Tem a cabeça nas nuvens, um coração enorme, memória de passarinho e uma vontade gigante de ficar de boa.