Mais de 80 cientistas alertam para aumento da concentração do gás na última década.

O aumento nos últimos 10 anos das emissões de metano, potente gás do efeito estufa, ameaça tornar a luta contra o aquecimento global ainda mais difícil, disseram pesquisadores nesta segunda-feira (12).

“Deve-se tentar quantificar e reduzir as emissões de metano urgentemente”, afirmaram em um editorial esses pesquisadores, que coordenaram um balanço mundial realizado por 81 cientistas de 15 países.

Depois de uma leve diminuição entre 2000 e 2006, a concentração de metano na atmosfera aumentou 10 vezes mais rapidamente na década seguinte, afirma o estudo, publicado na revista científica Earth System Science Data.

“Manter o aquecimento abaixo dos 2°C já é um desafio considerável”, afirmaram, em referência ao objetivo da comunidade internacional estabelecido no final de 2015 no Acordo de Paris.

 

“Tal objetivo se tornará cada vez mais difícil se as emissões de metano não forem reduzidas forte e rapidamente”, alertaram.

Os pesquisadores trabalham com várias hipóteses para explicar este aumento, como a exploração dos combustíveis fósseis ou, mais provavelmente, as atividades agrícolas.

As concentrações aumentaram cada vez mais rápido desde 2007, com uma forte aceleração em 2014 e 2015.

A tal ponto que nenhum dos cenários intermediários do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a autoridade científica de referência sobre o clima, mostrou esta evolução.

“A velocidade de aumento se aproxima de maneira preocupante ao cenário mais pessimista”, ressalta Marielle Saunois, da Universidade de Versailles Saint Quentin, em uma coletiva de imprensa em Paris.

O metano, o segundo principal gás de efeito estufa relacionado com as atividades humanas, depois do dióxido de carbono (CO2), contribui com 20% do aquecimento atual.

Até agora, os esforços contra as mudanças climáticas se concentraram no CO2, emitido em grande parte a partir de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), e que representa 70% dos gases de efeito estufa.

No entanto, o metano é 28 vezes mais poderoso do que o CO2, embora permaneça menos tempo no ar, cerca de 10 anos.

Grande potencial de açãoO metano é mais difícil de se controlar do que o CO2, porque está mais difuso e provém em grande parte de fontes naturais, como zonas úmidas e formações geológicas.

No entanto, de acordo com o estudo, 60% das emissões de metano estão vinculadas às atividades humanas, sendo que 36% delas procedem da agricultura, da pecuária e do tratamento de resíduos.

Os pesquisadores priorizam essa hipótese para explicar o aumento das emissões. Segundo a FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o número de cabeças de gado passou de 1,3 bilhão em 1994 para a 1,5 bilhão 20 anos depois.

Mas eles também não excluem o papel dos combustíveis fósseis neste aumento.

No total, 21% das emissões de metano se devem à exploração de carvão, petróleo e gás, dado que, desde sua extração até suas redes de distribuição, os vazamentos de metano são muito frequentes.

“A partir dos anos 2000, há uma grande exploração de carvão na China, e a exploração de gás nos Estados Unidos também está em aumento”, afirma Saunois.

Por outro lado, o permafrost, o solo congelado das altas latitudes, também pode liberar metano quando se funde.

Apesar deste ser um dos grandes temores dos climatologistas, nesta fase ainda “não vemos um aumento anormal das concentrações”, diz o pesquisador e coautor Philippe Bousquet, acrescentando que estas “emissões podem aumentar com o tempo, mas isso ocorrerá ao longo de décadas”.

Em relação ao forte aumento das emissões nestes dois últimos anos, os cientistas não encontram explicações.

“Pode ser de origem natural”, diz Bousquet. “Mas se se prolonga por mais do que três ou quatro anos, seria necessariamente humano”, acrescenta.

Embora não se saiba a origem exata, pode-se adotar medidas para reduzir ou capturar metano: metanizadores nas fazendas, modificação dos protocolos de irrigação dos arrozais, evitar os vazamentos, etc.

“Podemos reduzir estas emissões mais facilmente, de maneira menos coercitiva, do que as de CO2, apoiando ao mesmo tempo a inovação e o emprego. Portanto, não devemos renunciar a isto”, insiste Philippe Bousquet.








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