E de repente encontro com você em um dos corredores do supermercado, está tentando entender a diferença de água sanitária e desinfetante, vejo você ligando para sua mãe para perguntar se lavanda é melhor do que petúnias.

-Mas mãe, tudo vai deixar cheiroso do mesmo jeito não vai?

Eu vi você trocar sua banda preferida por músicas que não ouviria nem em apostas, eu vi você aceitar apelidos infantis que outrora abominava, eu vi você abrir mão dos seus amigos, do seu futebol, dos finais de semana de vídeo game por uma cerquinha branca e um cachorro no quintal.

Eu vi você forçar uma maturidade que somente quem te conhece sabe o quanto está desesperador a sua necessidade de aceitação. Não é errado desejar construir uma história ao lado do amor de nossas vidas, desejar estabilidade e tão pouco construir um futuro. O que é errado é abrir mão de quem realmente somos para que o outro venha nos aceitar.
E ao ver você trocar a noite pelo dia, a trucada pelo cinema, e os role por seriados, realmente me assustou.

Me fez ver o quanto eu não te conhecia, e se eu te conhecia então é a ela que você engana? Você se transformou em uma cópia barata desses livros resenhados. Ao ver você dizer amar tudo o que um dia disse detestar me fez arrepiar, porque um dia você me disse que me amava, certamente mentiu sobre isso também já que hoje fingi não mais me conhecer.
Um amigo de uma amiga veio me dizer que você andava preocupado comigo, que mudei extremamente, que certamente não aceitei bem o nosso final, mas que a vida era assim mesmo e que eu deveria seguir em frente e guardar apenas as boas lembranças.

Boas lembranças? Desculpe-me, mas cada vez que lembro de você mais fico enojada ao deparar com a realidade tão deturpada que encontro nos dias de hoje.

Você se mostra chocado ao saber que ao invés de chorar e arrastar correntes pelo fantasma da sua lembrança eu estou cada dia mais linda, mais viva e com uma vontade incontrolável de ser feliz, desculpa se continuo com os mesmo amigos de sempre, com as noites de pipoca amanteigada, filme de terror e sofá para os dias chuvosos, desculpe por não abrir mão do meu salto 15, da minha maquiagem perfeitamente desenhada, do sorriso de canto e das noites memoráveis dançando até raiar o dia ou até mesmo o meus pés cansarem.

Desculpa por ter continuado com a minha vida tão bagunçada quanto o meu guarda-roupas, mas tão única quanto a minha essência, desculpa por não abrir mão do meu amor próprio para ter que satisfazer primeiro o outro, desculpa por não aceitar me encaixar em uma relação adotando uma outra personalidade para ter que ser aceita no mundo de uma outra pessoa. Desculpa por ter seguido em frente e ter te esquecido, mas acontece que você não é mais o cara por quem eu me apaixonei, você é apenas uma versão simples de uma pessoa comum, e bom, você me conhece né? O comum me dá sono, tédio e jamais me despertaria paixão.








Re Vieira, guria apaixonada pela vida, escorpiana formada em direito, amante das palavras, ama café, gente divertida e vinhos, sou aspirante a escritora, louca de intensidade e sobrenome, tenho 27 anos mas perco a maturidade diante de um sorvete com gomas de mascar, me convidem pra beber e viramos amigos de infância.