Deixa eu chegar devagarinho, pois eu sei o quanto a pressa faz a gente tropeçar. Calma, eu só quero entrar aí como um passarinho faz seu ninho, fio a fio, fibra a fibra, dia após dia.

Quero a palavra disponibilidade mais do que o termo sedução, ainda que o segundo também seja imprescindível para uma boa relação.

Deixa eu entrar, vai. O terreno está arado, o solo está saudável e o sol disposto a fazer brotar, a deixar brilhar, igual a lua faz com a noite.

Prometo que a rotina, se chegar, não nos deixará intolerantes, pois essa é uma arma afiada e dolorosa se for utilizada entre duas pessoas que se querem bem.

Vamos descobrir juntos uma forma diferente de fazer aquilo que é igual. E repetir mil vezes tudo o que nos encantar os olhos, sempre encontrando novas e melhores formas para fazer isso.

Vamos rir, não o tempo todo, mas uma boa parte dele. Casais que não dão gargalhadas não ficam muito tempo juntos. Vamos rir, nem que seja um do outro.

Prometo deixar seu amanhecer mais doce todos os dias em que eu tiver a sorte de acordar ao seu lado. Café na cama na terça, café na mesa na sexta, café com geleia, pão quentinho e um beijinho entre uma mordida e outra, pois ninguém é de ferro. Ah, se esquentar o clima enquanto o primeiro raio de sol bate na cara, a gente faz valer o fogo e põe mais lenha na fogueira, afinal de contas, toda hora é hora de deixar aquecer a cama, incendiar a chama, nos pertencer.

Prometo cuidar seus pés depois de um dia cansado de trabalho, também prometo fazê-los cansar quando o desânimo tomar conta. Podemos ler livros embaixo daquela árvore que você adora. E depois, sei lá, a gente descobre novos caminhos de voltar para casa ou novas formas de perceber os mesmos caminhos.

Juro que vou por aquela flor no seu cabelo. Não sempre, que é para não perder a graça da surpresa. Flores, muitas delas enfeitarão o caminho que fizermos juntos. Que graça tem a vida sem o perfume das flores? Falando em perfume, vou guardar o seu na memória, sempre que estiver longe.

E quando estiver bem perto de mim, pode esquecer o perfume, deixa pra lá, é seu cheiro que me faz puxar o ar com força e soltar na certeza de que nenhum outro combinaria mais com o meu.

Seus olhos dentro dos meus, esse é um trato obrigatório. Quero poder ver minhas olheiras de tanto fazer amor no reflexo das suas pupilas, e ver você arrumando o cabelo desgrenhado e suado no reflexo das minhas. Falando em amor, por favor, olhe em meus olhos quando disser que me ama, nada é mais importante do que isso.

Que o tempo juntos seja o suficiente para criar o laço e que as horas longe sejam necessárias para alimentar a saudade. Ah, a saudade! Que ela exista, mas não persista. Que ela esteja, mas não seja. Que ela chegue, mas não fique. Deixo você dormir até tarde nos feriados, mas também te chamarei para acordar comigo, ainda que reclame que o dia ainda está escuro.

Vamos ao cinema sempre que possível, nunca menos do que gostaríamos. Estarei ao seu lado na partida dos que você mais ama e chorarei no seu ombro a mesma dor. Não passaremos aniversários em branco, nem o seu, nem o meu. Nem que a vontade seja de comemorar o dia com pantufas e pipoca no sofá.

Seremos como o sol e a lua ou como a areia e o mar: início e meio. Nunca fim. Seremos um, sem nunca deixarmos de ser dois. Não andaremos na frente, menos ainda atrás. Estaremos lado a lado, pois é assim que nos enxergamos melhor.

Deixa eu chegar devagarinho como a embarcação quando encontra seu porto, suave e segura de estar no lugar certo.

Deixa eu abrir as portas, desfazer as malas, arrumar a cama. Esquece o medo ou o receio do que pode dar errado e aposte na disponibilidade que temos para fazer dar certo. Quando dois destinos se cruzam para uma jornada, há de se aceitar a viagem. Sem GPS, sem mapa, sem rota alternativa.

Deixa eu chegar devagarinho como o passarinho lá do início desse texto, certo de que o céu não tem limite para quem decide voar junto.








Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.