Desde o início de nossas vidas nós somos ensinados a respeitar os outros e a fazer coisas gentis por eles. Entretanto, em alguns casos, as pessoas começam a se aproveitar de sua natureza generosa e gentil, pedindo mais do que o justo ou correto. Essas pessoas podem pedir favores repetidamente e fazê-lo sentir-se na obrigação de ajudá-las sem receber nem mesmo respeito em troca. Quando esses limites são ultrapassados, pode ser difícil se tornar assertivo novamente. Caso você sinta que algumas pessoas não o valorizam, está na hora de se proteger e redefinir seus limites.

Método
1
Analisando o problema

É importante reconhecer que está se sentindo desvalorizado. Não é possível processar ou tomar uma atitude quanto aos seus sentimentos até que possa admitir a existência deles. Pesquisas já demonstraram que há uma conexão entre analisar suas emoções negativas e diversos benefícios físicos e mentais. Reprimir os sentimentos apenas os piorará no longo prazo.[1]
Há uma diferença entre reconhecer seus sentimentos e remoê-los. Focar-se nos sentimentos negativos sem analisá-los ou trabalhar para corrigi-los pode deixá-lo se sentindo pior do que antes.[2]

2
Saiba que você tem o direito de se sentir respeitado. A pressão social e cultural pode encorajá-lo a acreditar que dizer não aos outros é grosseiro. Você também pode ter sido ensinado a achar que seu trabalho tem menos valor do que o dos outros e que você não merece reconhecimento. (Isso é um problema ainda pior nas mulheres, principalmente em contextos domésticos).[3] Essas coisas podem fazer com que você se sinta desvalorizado. Todos temos o direito de sermos respeitados e valorizados e não há nada de errado em querer ser tratado assim.

É natural sentir raiva ou mágoa e pode ser muito fácil ser sobrecarregado por esses sentimentos. Foque-se em ser construtivo ao invés de descontar a raiva nos outros.

3
Você precisa examinar o que faz com que você se sinta desvalorizado para conseguir controlar essa situação. Escreva uma lista de comportamentos e eventos específicos que fazem com que se sinta assim. Você pode encontrar comportamentos dos outros que podem ser mudados. Sua própria comunicação pode precisar ser trabalhada – por exemplo, você pode tentar comunicar seus limites mais claramente. [4]

Pesquisas demonstram que “se sentir desvalorizado” é uma razão comum para pessoas se demitirem.[5] 81% dos empregados dizem que são mais motivados a trabalhar quando seu trabalho é reconhecido por seus chefes.[6]

Estudos também revelam que as pessoas que se sentem solitárias são mais propensas a aceitar tratamentos injustos e permitirem que os outros se aproveitem delas.[7] Você pode se sentir desvalorizado pois tem medo de recusar um pedido e ficar solitário por isso.

Tente não atribuir motivações à outra pessoa. Por exemplo: Imagine que se sentiu desvalorizado pois frequentemente oferece carona a uma colega de trabalho mas ela não devolveu o favor quando seu carro quebrou. Não há problema em escrever algo como “A Jéssica não me deu carona quando meu carro quebrou, por mais que eu dê caronas a ela com frequência”, mas escrever algo como “A Jéssica não se importa comigo por que ela não me deu uma carona até o trabalho” não seria útil. Sem falar com a Jéssica, você não é capaz de entender o que ela sente e os motivos para fazer ou deixar de fazer coisas.

4
Identifique o que mudou no relacionamento. Talvez você já tenha se sentido valorizado pela mesma pessoa que agora o toma por certo. Você pode se sentir desvalorizado por que acredita que deveria ser mais reconhecido, mas a outra pessoa não alcança suas expectativas. Não importa a causa, identificar o que mudou em suas interações pode ajudá-lo a se sentir melhor e a encontrar uma solução para o relacionamento.[8]

Tente pensar em quando começou a interagir com a outra pessoa. O que ela fazia para que você se sentisse valorizado? O que não acontece hoje que acontecia antes? Você mudou algo em si próprio?[9]

Você pode se sentir desvalorizado no trabalho pois seus esforços não pareçam ser recompensados (você não recebeu um aumento ou não foi reconhecido em um projeto, por exemplo) ou por não se sentir envolvido na tomada de decisões.[10] Pense no que o faz se sentir assim e veja se algo mudou.

5
Pense na perspectiva de outra pessoa. Ao sentir a injustiça em um relacionamento, seja com um colega de trabalho ou uma namorada, pode ser difícil analisar o ponto de vista da outra pessoa. Você se sente desrespeitado, então por que tentaria entender o motivo para ser tratado assim? Tentar entender os sentimentos da outra pessoa pode ajudá-lo a entender o que está acontecendo. Isso também pode ajudá-los a trabalhar em conjunto para encontrarem uma solução para o problema.[11]

Na ausência de transtornos de personalidade ou outros distúrbios, as pessoas não começam a simplesmente tratar mal os outros.[12] Acusar alguém de ser “idiota” ou “babaca”, mesmo que acredite que sua opinião é justificada, provavelmente fará com que a outra pessoa responda de modo raivoso e improdutivo.

Pense nas necessidades e desejos da outra pessoa. Essas coisas mudaram?[13] Pesquisas demonstram que os indivíduos muitas vezes utilizam técnicas de distanciamento passivas, como não devolver favores e não demonstrar afeto, quando não estão mais interessadas no relacionamento mas não sabem como encerrá-lo.[14]

Método
2

Analisando seu papel

Examine sua comunicação. Você não é responsável pelo comportamento dos outros e não deve se culpar quando eles são indelicados ou mesquinhos. Entretanto, você pode controlar suas ações. Caso se sinta desrespeitado ou ignorado, você pode ser capaz de afetar o modo com o qual os outros respondem a você mudando suas formas de se comunicar e de agir. Esses são alguns comportamentos e atitudes que podem encorajar os outros a tratá-lo de modo injusto: [15]
Você diz sim a tudo que pedem, mesmo se o pedido for inapropriado ou inconveniente.

Você não está disposto a dizer não ou pedir que a pessoa revise suas expectativas por medo de que ela não gostará de você ou o culpará.

Você não expressa seus sentimentos ou pensamentos verdadeiros.

Você expressa suas opiniões, necessidades ou sentimentos de modo apologético ou retraído (por exemplo: “Se não for muito trabalho, você poderia…” ou “É só minha opinião, mas…”).

Você pensa que os sentimentos, necessidades e pensamentos dos outros são mais importantes do que os seus.

Você se diminui na frente dos outros (e muitas vezes sozinho).

Você pensa que só o amarão se você fizer o que esperam de você.

2
Considere sua crença em si mesmo. Psicólogos definiram um conjunto de “crenças irracionais” que podem magoá-lo caso você as mantenha vivas. Essas crenças normalmente demandam mais de você do que dos outros. Veja se você apresenta algum dos comportamentos abaixo: [16]
Você acredita que ser amado e aprovado por todos em sua vida é essencial.
Você se considera um “perdedor”, “inútil” ou “estúpido” quando não é reconhecido.

Você faz alegações de que “deveria” fazer as coisas com frequência, como por exemplo “Eu deveria ser capaz de fazer tudo que me pedem” ou “Eu deveria sempre tentar agradar os outros”.

3
Reconheça um pensamento distorcido. Além das crenças irracionais, você também pode pensar sobre si mesmo de modo distorcido. Para lidar com a sensação de ser desvalorizado, confronte esses pensamentos ilógicos e distorcidos sobre si mesmo e sobre os outros.[17]

Por exemplo, você pode acreditar ser responsável pelos sentimentos de todos (uma “ilusão de controle interno”). Isso normalmente faz com que você se sinta desvalorizado: você se preocupa tanto em não magoar os outros que diz sim para tudo. Entretanto, você não estará ajudando a si mesmo e nem a outra pessoa se não for honesto com seus limites. [18] Dizer “não” pode ser saudável e útil.

A “personalização” é outra distorção comum. Ao personalizar, você se torna a causa de algo pelo qual não é responsável. Por exemplo: imagine que uma amiga pediu que você ficasse de babá para que ela pudesse ir a uma entrevista de emprego, mas você possui um evento importante que não pode ser reagendado.

Personalizar essa situação faria com que você se sentisse responsável pela situação de sua amiga, mesmo que isso não seja verdade. Caso aceite ajudá-la, você pode ficar insatisfeito pois não respeitou suas próprias necessidades.

A “catastrofização” ocorre quando você permite que sua visão de uma situação saia de controle. Por exemplo, você pode se sentir desvalorizado pois imagina que se confrontar seu chefe, ele o demitirá e você morará debaixo da ponte. É pouco provável que isso aconteça!

Uma crença autodestrutiva que pode prendê-lo em um ciclo vicioso é acreditar que você não merece nada diferente. Acreditar que os outros o abandonarão caso você os desagrade pode fazer com que você mantenha pessoas em sua vida que não contribuam com sua felicidade ou crescimento. [19]

4
Pense no que deseja. Você sabe que não quer se sentir desvalorizado, mas o que você deseja? Pode ser difícil visualizar as mudanças em sua situação caso você se sinta levemente insatisfeito mas sem ideias de como melhorar isso. Tente escrever uma lista de coisas que gostaria de mudar em um relacionamento. Após ter consciência de como uma interação ideal seria, você será capaz de executar medidas que possam levá-lo até ela.

Por exemplo, caso você se sinta desvalorizado pois seus filhos apenas ligam quando precisam de dinheiro, pense em como gostaria que as interações ocorressem. Você gostaria que eles ligassem uma vez por semana? Após um bom dia? Você quer dar dinheiro quando eles pedirem? Você dá dinheiro pois está preocupado que eles não ligariam mais caso se negasse? Você precisa examinar seus limites para que possa comunicá-los aos outros.

5
Respeite a si mesmo. Estabeleça limites e atenha-se a eles. Você pode se sentir desvalorizado pois não comunica suas necessidades e sentimentos de modo claro ou por estar interagindo com uma pessoa manipuladora.

Infelizmente, existem pessoas que manipulam os outros sempre que possível para conseguir o que querem.[20] Não importa se o tratamento tem origem na ignorância ou na manipulação, não presuma que a situação se consertará sozinha. Você precisa agir.

6
Desafie suas interpretações das interações com os outros. Você pode se sentir desvalorizado pois tira conclusões precipitadas de como essas interações ocorrerão. Por exemplo, você pode acreditar que a outra pessoa ficará magoada ou nervosa caso você diga “não” para ela ou presumir que ela não se importa com você por ter esquecido de algo. Tente ir devagar e analisar as situações logicamente.

Por exemplo: você dá muitos presentes para sua parceira para expressar seu amor, mas ela não o presenteia de volta. Você se sente desvalorizado pois está atrelando o amor de outra pessoa a uma ação particular. Entretanto, ela pode gostar de você mas não demonstrar isso através da ação esperada.[21] Conversar com ela pode ajudá-lo a esclarecer esse mal entendido.

Você também pode analisar o modo com o qual lidou com os pedidos de uma pessoa em particular. Por exemplo, caso sinta que seu chefe o desvaloriza pois ele sempre o encarrega do trabalho extra do fim de semana, converse com seus colegas de trabalho. Como eles lidam com esses pedidos? Eles já experimentaram as consequências negativas que você espera que ocorram com você caso confronte o chefe? Você pode estar recebendo o trabalho extra por ser o único que não se negou a fazê-lo.

7
Aprenda a ser assertivo, mas saiba que isso não é o mesmo que ser arrogante ou indelicado. Você deve ser capaz de expressar claramente suas necessidades, sentimentos e pensamentos. Caso os outros não saibam quais são suas necessidades e sentimentos, eles podem acabar se aproveitando de você, mesmo que inconscientemente. Pesquisas demonstram que você pode expressar até mesmo sentimentos negativos sem magoar os outros, basta expressá-los de modo assertivo e não agressivo.[22]

Comunique suas necessidades de modo aberto e sincero. Utilize sentenças como foco em você, dizendo coisas como “Eu quero…” ou “Eu não quero…”[23]
Não se desculpe ou diminua. Não há nada de errado em dizer “não” e você não deve se sentir culpado em negar um pedido que não acredite conseguir realizar.

8
Acostume-se com os confrontos. Alguns indivíduos tentam evitá-los a todos os custos, seja por terem medo de desagradar os outros ou por seus valores culturais (por exemplo, pessoas de culturas coletivistas veem os conflitos como algo negativo).[24] Quando seu desejo de evitar os conflitos significa que você deve desligar suas próprias necessidades e sentimentos, ele se torna um problema.[25]

Se abrir quanto a suas necessidades pode resultar em alguns confrontos, mas isso nem sempre é negativo. Pesquisas demonstram que os conflitos produtivos podem desenvolver habilidades como comprometimento, negociação e cooperação.[26]

A comunicação assertiva pode ajudá-lo a lidar melhor com os confrontos e a aumentar sua autoestima.[27] Acreditar que seus sentimentos e necessidades são tão importantes quanto os dos outros pode ajudá-lo a lidar com o confronto sem sentir a necessidade de atacar a outra pessoa ou de ficar na defensiva.

9
Busque ajuda, pois pode ser difícil enfrentar a impotência e a culpa por conta própria. Assim que esses padrões comportamentais se formam, pode ser difícil ignorá-los, principalmente se você já teve um relacionamento duradouro com uma pessoa que tinha uma posição de autoridade sobre você e que o fez sentir como se tivesse de obedecer ordens o tempo inteiro. Não seja duro demais consigo mesmo – esses comportamentos se formaram como mecanismos de defesa. O problema é que eles agora o impedem de alcançar resultados diferentes. Trabalhar para melhorá-los o ajudará a se sentir mais feliz e seguro.

Algumas pessoas são capazes de enfrentar esses problemas sozinhas ou com a ajuda de amigos ou mentores. Outras encontram benefícios se consultando com terapeutas ou psicólogos. Faça o que parecer mais confortável para você.