Pessoas depressivas são muitas vezes retiradas e antissociais. Isso não significa necessariamente que elas não gostam de outras pessoas, mas, segundo um novo estudo, poderia significar que seus cérebros não processam sentimentos de ódio de uma forma normal.

Cientistas chineses e britânicos escanearam os cérebros de pessoas com e sem depressão, e encontraram um padrão surpreendente em quase todas as pessoas deprimidas: a atividade cerebral estava fora de sincronia em três regiões conhecidas coletivamente como o “circuito do ódio”, chamadas assim porque “ativam” quando as pessoas olham para fotografias de alguém que não gostam.

“Sentimentos de auto-ódio são uma característica comum da depressão, de forma que seria de esperar que os sentimentos também seriam mais intensos quando direcionados para outras pessoas”, explica o pesquisador Jianfeng Feng, professor de ciência da computação.
Em vez disso, é como se o cérebro de pessoas deprimidas odiassem “incorretamente”. As perturbações do cérebro observadas poderiam ser um sinal de que as pessoas com depressão têm uma capacidade diminuída para lidar com – e aprender com – situações sociais nas quais elas se sentem ódio.

Isso pode explicar por que elas muitas vezes guardam para dentro emoções como ódio e raiva, ao invés de lidar com elas de maneiras mais construtivas.

Segundo os pesquisadores, os resultados podem ajudar os médicos a entender por que as pessoas deprimidas reagem da forma como reagem a certas circunstâncias. Os sentimentos de dúvida e isolamento podem ter a ver com esse circuito do ódio dos pacientes.

Descobertas como esta são interessantes, mas os resultados são preliminares. Outros estudos têm que abordar o assunto para confirmar o que foi encontrado.

Os pesquisadores usaram ressonância magnética funcional (fMRI) para mapear o cérebro de 37 pessoas saudáveis e 39 pessoas que tinham recebido um diagnóstico de depressão, mas não tinham procurado tratamento ou responderam à medicação antidepressiva. A composição de cada grupo foi semelhante em termos de idade, sexo e educação.

Em um cérebro saudável, as ondas registradas por fMRI se movem para cima e para baixo juntas, em um padrão contínuo. Mas quando a função do cérebro está perturbada, as ondas se movem fora de sincronização, um fenômeno conhecido como “desacoplamento”.

As ondas cerebrais no circuito de ódio estavam desacopladas em 92% dos pacientes deprimidos.

A depressão também foi associada a perturbações em algumas partes do cérebro envolvidas na ação e na tomada de risco, na emoção e na busca de recompensa, e na atenção e no processamento da memória.

A maioria das pesquisas com ressonância magnética em pessoas deprimidas trata o cérebro como um grupo de regiões distintas, visando áreas muito específicas ou observando como se comportam as regiões de forma independente.

Este estudo, ao contrário, observou o sistema cerebral inteiro de uma vez – uma abordagem que ajudou os pesquisadores a fazer conexões e descobrir padrões em várias regiões.
Os cientistas realizaram os exames enquanto os participantes estavam descansando. Isso minimizou a interferência de qualquer estímulo externo, mas também significa que os pesquisadores não podem ter a certeza se as perturbações do cérebro que eles observaram se relacionam com situações ativas, tais como situações sociais.

No futuro, o foco no circuito ódio pode abrir novos caminhos para o tratamento da depressão, incluindo novos medicamentos e psicoterapias.