Como escritora e professora, acredito veementemente no poder das palavras. Palavras, como diria o professor do filme “Sociedade dos poetas mortos”, podem mudar o mundo sim. Palavras aconchegam, consolam, acarinham, ensinam, inspiram, motivam, mas também esfolam a alma , a rasgam em mil pedações, geram traumas incuráveis, se materializam nos piores pesadelos que sonhamos acordados. Amo e temo as palavras em medidas quase iguais. É preciso amá-las, respeitá-las e reverenciá-las.

Porém, a vida que nos arrasta numa sequência tragicômica de experiências variadas vai nos mostrando que algumas perguntas não merecem respostas e que a melhor resposta para os insultos e para a ironia barata ( uso o termo barata , pois existe um tipo de ironia muito inteligente) é o silêncio.

O silêncio também é a melhor resposta para a hipocrisia, para aqueles que fingem se importar conosco, quando na realidade só querem especular ou simplesmente afundar um pouco mais o dedo nas nossas feridas, certificando-se de que eles ainda pulsam e jorram pus.

Devemos responder a que nos questiona seriamente , a quem espera realmente uma resposta de nós. A quem se interessa pelo nosso ponto de vista ou simplesmente deseja entendê-lo, independente de concordar ou não com ele. Devemos responder a quem agrega valor à nossa fala. Quem apenas quer insultar e não apresenta a menor abertura para ouvir o que difere minimamente da sua opinião, não merece uma resposta. Mais do que isso. Esta pessoa não quer uma resposta. Esta pessoa quer apenas um gancho para insultar mais e reforçar por meio da agressão suas próprias falácias.

Sim, muitas vezes o silêncio é a mais eficaz resposta, pois o silêncio representa a desistência, o abandono. Paramos de discutir com alguém quando descobrimos que não vale a pena, tanto a discussão em si como a pessoa em questão. Paramos de trocar ideias quando sentimos que nada do que falarmos vai resolver as pendências intelectuais e/ou afetivas. Paramos de usar as palavras quando percebemos que elas perderam a capacidade de transformar naquele contexto. Onde reinam a intolerância e a soberba, a palavra se torna semente estéril.

Como dizer algo para quem acha que sabe tudo? Para alguém que se considera dono da verdade? Como dizer algo para quem não está escutando com o coração e a mente aberta? Como dizer algo para quem já decidiu de antemão odiar tudo o que vem de você? Como dizer algo para alguém que só deseja te machucar?

Sim, às vezes o silêncio é a melhor resposta. É a que responde melhor à indagação do outro. É que nos poupa dos mais inúteis dissabores.

 








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.