Incidência de ansiedade não depende da classe social, da etnia ou da localização geográfica: a questão é o gênero mesmo.

Em discussões políticas, no trabalho ou na família, é comum que as mulheres sejam chamadas de “loucas” – pelo menos com frequência que os homens.

Mas observar com seriedade a saúde mental feminina é algo raro, ainda mais sem cair no sexismo – e foi isso que um estudo da Universidade de Cambridge se propôs a fazer.

Analisando mais de mil artigos e pesquisas sobre ansiedade e depressão publicados desde 1999, eles chegaram a resultados assustadores: o transtorno de ansiedade é duas vezes mais comum nas mulheres do que nos homens.

E o número independe de qualquer outra questão, como a classe social, a etnia e a localização no globo.

Problemas psicológicos como depressão, bipolaridade e ansiedade não são incomuns. Na verdade, segundo a OMS, eles atingem 1 a cada 3 pessoas no mundo – e quando só o transtorno de ansiedade é considerado, o número vai para 4% da população global.

Entre as mulheres, 42% sofrem do transtorno, enquanto para os homens, o número cai quase pela metade: 29%.

Mas o que é o transtorno de ansiedade? A OMS o define como o sentimento constante de preocupação, de incapacidade e de medo.

Fisicamente, a pessoa pode ter náusea, taquicardia e problemas de sono, e, quando têm um ataque, podem nem conseguir sair de casa.

Esses sintomas ajudam a explicar por que é importante levar o gênero em conta na análise do transtorno de ansiedade: eles aparecem nas mulheres, segundo o estudo, porque elas permanecem constantemente em estado de alerta.

Para dar uma ideia, uma em cada cinco mulheres será estuprada ao longo de sua vida, de acordo com a OMS – uma óbvia fonte de tensão para elas.

Além disso, das 50 milhões de pessoas que vivem em situações de conflito, 80% são mulheres e crianças.

Vítimas de violência doméstica, assédio sexual nas ruas, dentro de casa, no trabalho e nos transportes públicos também são, majoritariamente, mulheres.

Além disso, existe também a pressão criada pelos múltiplos papéis impostos à mulher – como a maternidade -, e a falta de apoio da família se elas, enfim, decidem começar um tratamento psicológico.

Frequentemente, explica o estudo, as mulheres sequer têm autonomia para compreender que o que estão sentindo é um transtorno de ansiedade.

Faz sentido, então, que elas desenvolvam duas vezes mais ansiedade do que os homens.

A conversa sobre doenças mentais é importante porque elas ainda são ignoradas, mesmo quando o objeto de estudo não é gênero. Estima-se que, no mundo inteiro, menos da metade das pessoas que buscam ajuda psicológica de fato a conseguem.

E os próprios pacientes são relutantes em procurar ajuda – só duas a cada cinco pessoas que sofrem de transtornos procuram auxílio psicológico.

Enquanto esse comportamento não mudar, a depressão e a ansiedade só continuarão a ganhar terreno. Entre as mulheres, mais ainda.