“Garotinho: Você é um anjo?

Eu: O que?

Garotinho: Minha mãe disse que aqueles que os pulsos marcados são anjos.

Eu: Eu não sou um anjo.

Garotinho: É claro que você é. Mamãe disse que só os anjos se cortam, porque eles não gostam da vida na Terra. Eles tentam se matar para retornar ao paraíso. Eles são muito sensíveis à dor do outro e deles mesmo.

Eu: Você sabe, sua mãe é muito sábia.

Garotinho: Obrigado. Ela também é um anjo, mas ela já voltou para casa.”

Fonte: tumblr

“As cicatrizes que você tem são as marcas de um guerreiro.”

Fonte: tumblr

“E era nos pulsos que ela procurava força para suportar tudo aquilo que estava vivendo.”

Fonte: twitter

Muitos adolescentes têm sido bombardeados com essa teoria absurda de que “são anjos que querem voltar para a casa”. Há umas semanas, encontrei um grupo no facebook de jovens que postavam constantemente fotos dos braços cortados com lâminas. E acreditavam ser isso “sinal de que são anjos” e de que “deveriam voltar para a casa”. Tentei ajudar alguns adolescentes no grupo, ofereci auxílio com diálogos, tentei entender o que eles sentiam. Mas o grupo desapareceu do facebook antes que eu pudesse firmar confiança com eles. Ficaram apenas duas páginas que tratam desse tema.

Desde o sumiço do grupo, há 3 semanas, venho procurando de onde saiu essa teoria de que “são anjos que querem voltar para a casa”. Infelizmente não encontrei a origem, ao fazer uma busca no google, é possível encontrar imagens que fortalecem essa teoria – imagens fortes e lastimáveis – ficou a preocupação, o sentimento de fazer algo. Por isso decidi escrever esse alerta.

Adolescentes passam por N dúvidas. É um turbilhão de mudanças, medos e ansiedades nessa época da vida. Muitos acabam se deixando levar por esse tipo de influência negativa. Cabe a nós, amigos e familiares, que convivem com esse adolescente, notar que algo não está indo bem. Cortes de lâminas nos braços, cortes no pulso, silêncio, jovens que preferem passar o dia todo no quarto a sair com amigos… São sinais de que algo não está bem. É necessário diálogo, procura por ajuda de especialistas e sobretudo, não negar que existe o problema. Caso o adolescente esteja em depressão, as chances de chegar mesmo a tirar a própria vida, são altas. A ajuda de um especialista é fundamental. Enxergar o problema e agir, faz toda a diferença.

E se você, que lê esse artigo, é o adolescente que acha legal esse conceito de que “é anjo que quer voltar para casa, por não se adaptar o mundo”, te deixo umas palavras, lembrando que tenho 30 anos e boa parte do que você passa hoje com a adolescência, eu passei:

Você não é anjo que quer voltar para casa e acha que o suicídio é a solução para os seus problemas. Boa parte dos problemas que você tem hoje, foi você mesmo quem criou. Como você que criou, sabe exatamente o que fazer para sair deles. Ficar e lastimando e se cortando, não vai fazer os problemas, medos e anseios sumirem. Pelo contrário, ficará constrangido, cada vez que alguém lhe questionar sobre o motivo de sempre usar blusas com manga longa ou sobre o porquê de ter de usar tantas pulseiras.

A adolescência é complicada mesmo. Mas a gente sobrevive. Segundo o espiritismo, as pessoas que tiram a própria vida, reencarnam com problemas físicos; é isso que você quer para a próxima vida? Retornar com algum problema físico para dar valor ao corpo que teve e não valorizou? Se matar de fato, requer coragem. Para deixar os familiares, amigos, o seu quarto que você tanto ama. E mais: força. Sim! Força para por exemplo, cortar os pulsos. A dor é cruel e no momento em que você decide fazer isso, muitos espíritos sem luz decidem te acompanhar, para te puxar mais para o buraco ainda.

Tenho certeza de que você odeia se cortar. Jogue as lâminas fora. Pense no quanto vai deixar de viver. Aquele carro que você tanto quer, não poderá trabalhar e comprar. Aquele emprego que sonha, não poderá alcançar. Aquela faculdade que sonha em fazer, nunca poderá colocar uma toga e um chapéu de formatura… tão pouco jogá-lo para cima no momento da foto. Você não é anjo que quer voltar para casa e se optar pelo suicídio, não voltará para casa. Ficará em um lugar escuro, sofrendo. Isso não deve ser nada agradável.

Se a tristeza te abala constantemente, faça algo por si mesmo: procure ajuda. Seus pais, irmãos, familiares, amigos. Procure ajuda. A vida não é fácil mesmo e na adolescência, estamos começando a ver isso. Saímos do conforto da infância, onde tudo era colorido e fácil para começar a assumir as primeiras responsabilidades e enfrentar de fato, a vida.

Tenho a certeza de que você se sentirá mais gente ao ter um emprego após meses de estágio, ao tirar foto de toga e chapéu de formatura, com uma fita na cintura. Nada paga o orgulho que sentimos ao conquistar na vida. E você sentirá isso se optar por viver. Por ser mais forte que essa coisa de “ser anjo”. Seja um anjo do bem: comece fazendo bem a si mesmo. Jogue fora as lâminas e peça ajuda.








É graduanda em Psicologia, tem 32 anos. Como o que faz o mundo dela girar, são as pessoas, trabalha com Recursos Humanos. É mineira, bem casada com um Gaúcho lindo. Mora em Porto Alegre desde 2012. Está sempre lendo e ama escrever. Se sente rica, por ter vários livros em uma estante que é o seu tesouro. Ama se engajar em causas sociais, crê que a única coisa que levamos desse mundo, é o que plantamos. E que as boas obras, são fundamentais.