Algum tempo atrás falei a respeito do narcisista bem sucedido, endinheirado e como ele usa sua posição e recursos para convidar seus alvos para dentro de sua vida, assumindo não só todas as obrigações financeiras, mas também o controle, exercendo poder ilimitado sobre o outro indivíduo.

Proporcionam uma boa vida ao custo da identidade e dignidade do outro. Para esse tipo, tudo o que é de seu alvo é inferior ou inadequado: família e amigos não prestam, seus pertences são defeituosos ou não bons o suficiente, suas conquistas não têm valor, ou seja, sem ele seu alvo não é nada.

No outro extremo encontramos o perverso narcisista do tipo parasita que também roubará a identidade e dignidade de seus pares, mas não só. O parasita é charmoso, sociável e vitimista. Ele encanta por onde chega, é simpático, carismático, faz amigos com muita rapidez e ganha facilmente a confiança de todos.

O parasita pode ter ou não boa formação acadêmica, mas invariavelmente é mal sucedido na vida profissional. Ele é instável, não consegue, a despeito dos estudos ou oportunidades que surjam, crescer profissionalmente e se firmar de alguma forma.

Todos os seus empreendimentos acabam por ruir, pois é péssimo administrador. Sua grandiosidade não lhe permite seguir o curso natural do crescimento e a manutenção estável de dedicação diária. Quer tudo para ontem e muito. Seu senso de merecimento lhe diz que deve de pronto ocupar um alto cargo ou ganhar mais que os outros, ser ajudado ou favorecido.

Esforço e dedicação são coisas para mortais. O parasita narcisista merece mais, tudo e rápido. Ele é especial. Vitimista, atribui seu insucesso às outras pessoas, às circunstâncias ou a planos futuros que “logo serão colocados em prática”, o que nunca ocorre, por culpa de todos ao seu redor, é claro.

Exatamente por ser eloquente, articulado, carismático e vitimista, o perverso parasita encontrará com facilidade alvos que lhe proporcionem um vida boa enquanto ele “ajeita as coisas” ou “fecha aquele grande negócio”. Para ser sustentado e cuidado, colocará sua mira egoística sobre pessoas bem sucedidas ou com emprego estável, de preferência que morem sozinhas e se mostrem solitárias, sem uma boa rede de apoio ou carentes.

Antes de encontrar esse alvo provedor, parasitam em cima dos pais, que não percebem que são adultos de 30, 40 anos ou mais, e não criancinhas incapazes. Outras vezes, os pais até percebem o fracasso que é a personalidade de seu rebento, mas carregam esse peso insuportável, pois se sentem ameaçados, reféns, culpados ou simplesmente não conseguem impor limites à cria parasita e vitimista.

Rapidamente, o enredamento, bombardeamento de amor e aparente interesse numa relação séria vão deixar o alvo tão distraído e confiante que não perceberá que em questão de semanas ou meses, o parasita já terá se instalado em sua casa, onde passa a se comportar como dono ou já estará usando seu carro, seu cartão, suas coisas como se o alvo tivesse a obrigação de prover seu conforto como pagamento por “aquele ser incrível tê-lo escolhido”.

Muitas vezes, com a crueldade e manipulação que lhes são peculiar, dará a entender que escolheu seu alvo por admirá-lo e não pelos atributos físicos, fazendo referências a “pessoas lindas e maravilhosas que já passaram por sua vida”, minando a autoestima do par, de modo que se esmere cada vez mais para agradá-lo já que não tem beleza suficiente para manter a atenção do parasita. O alvo se compara e trabalha para ser cada vez melhor aos olhos do insaciável parasita.

Algumas vezes, não se trata de um alvo que more sozinho, mas com potencial econômico para tal. Quase sempre é alguém em busca de um ideal de amor que os leve para fora de casa para viver um sonho. O parasita chega sedutor e, em tempo record, propõe “morar junto e dividir as despesas”. Nos 2 ou 3 primeiros meses cumprirão sua parte no trato, mas eu pouco tempo as desculpas e lamentações chegarão e quando o alvo se dá conta, está bancando tudo “temporariamente”. Veja, isso é diferente de assumir a casa quando ocorre uma doença ou desemprego. Bem diferente!

Os jantares serão pagos pelo alvo, o supermercado, a padaria, a pizza ou a comida japonesa pedida no delivery, o motel, as viagens. O parasita está sempre quebrado ou “em transição” e a pessoa empática, muito compreensiva, vai atravessar essa “fase” como uma heroína incansável. Mesquinho com seu próprio dinheiro, se sentirá muito à vontade em usar o dinheiro de seus alvos, oferecendo presentes, festas e favores aos outros às custas do empático, já que para o perverso parasita o que é dele é dele e o que seu é nosso.

Os meses avançam e quando o alvo se dá conta está pagando por cada pãozinho que o perverso parasita come. O dinheiro dele não dá para nada, somente para seus interesses pessoais. Ele parece bem a vontade em ser bancado. Num desenrolar natural, contará tantas misérias e desgraças, insinuará que precisa ou gostaria de ter ou fazer certas coisas para que o alvo, empático por natureza, se adiante para lhe satisfazer as “necessidades”, caprichos e desejos. Quase nunca pedem abertamente, dão a entender e o alvo empático se mostrará sempre um ótimo entendedor.

Quando se der conta, o alvo já terá feito financiamentos e empréstimos em seu nome e terá uma parte substancial, quando não toda, de sua receita empenhada com gastos e necessidades do parasita. Vaidosos, não se contentam com pouca coisa: adoram grifes, bons restaurantes e conforto. Para conseguir esses favorecimentos, algumas vezes lançarão mão de chantagens emocionais e outras; de promessas de amor eterno e elogios jamais antes ouvidos pela parte empática, bem sucedida, mas insegura e desejosa de validação.

Não raro, o alvo será sugado e explorado também por outros membros da família. A pessoa empática, que faz qualquer coisa para agradar e ser aceita, passará a cobrir a todos de presentes e mimos, buscando ser vista como especial e insubstituível por todos. Quando presentear, dirá que é um presente “do casal”, para enaltecer o parasita que em nada colabora, apenas recebe os créditos.

Em sua mente, ainda que inconscientemente, a parte empática acredita que aquela servidão lhe garantirá que o parasita não a deixará, a menos que seja maluco de largar tantas benesses e uma pessoa “tão boa e compreensiva” que o “apoia tanto”. Ao estender sua doação à família e amigos do parasita, busca aprovação e apoio dos mesmos para ajudá-la na empreitada de mantê-lo por perto.

O que esse empático não sabe é que está compartilhando a vida com um indivíduo dono de um buraco negro onde toda e qualquer doação de amor ou material se perderá. São incapazes de amar, estabelecer laços afetivos reais e desinteressados; reconhecer e retribuir. Todas as suas ações são pensadas segundo sua conveniência e agenda de interesses.

Para eles, só o fato de estarem com seus alvos já é uma grande retribuição, afinal, “são pessoas incríveis, especiais, extraordinárias e qualquer pessoa daria tudo para estar no lugar privilegiado do alvo”…

Em pouco tempo, toda energia e patrimônio do alvo serão sugados e, quando não restar nada, será substituído ou reiteradamente desrespeitado. Nesse ínterim, sua conta engorda, seus bens aumentam e, quando se encontrarem em situação privilegiada ou com um alvo que ofereça mais vantagens em vista, fará movimentos de desvalorização e descarte, deixando novas vítimas em potencial em pole position, caso necessitem, sejam desmascarados ou simplesmente não tenham mais o que sugar do alvo atual.

Aos poucos, a situação do alvo começa a ficar insustentável. Nesse momento, ao ousar questionar a falta de apoio financeiro ou perguntar o porquê de, depois de ter ajudado e feito tanto pelo perverso parasita, está sendo tratado daquela forma, receberá respostas como: “eu não lhe pedi nada”, “nunca precisei de você para nada”, “você deu ou fez porque quis” , “fez ou deu porque queria me comprar ou me atrair para essa relação”, deixando o alvo tonto diante de tanto cinismo. Passado um tempo, tendo havido ou não o descarte, mal poderá funcionar ao compreender o quanto permitiu ser usado.

O perverso parasita reúne em si todas as características de outros perversos narcisistas e mais a capacidade de devorar seu patrimônio por completo sem nunca parecer que o está fazendo. Eu costumo dizer que o perverso do tipo parasita tem alto potencial lesivo porque além da devastação emocional, devastam materialmente a ponto de deixar seus alvos sem nada, nem mesmo a noção de quem eram antes daquela relação.








Coach de relacionamento, administra a página Relações Tóxicas, na qual dá dicas e apoio a pessoas que vivem, viveram ou sobreviveram a uma relação abusiva. Como advogada, atua principalmente em questões conturbadas de família. Seu maior prazer é escrever reflexões sobre a vida e sobre o ser humano, inspirando pessoas a realizarem seu potencial máximo em todos os aspectos da vida.